O combustível é a mercadoria mais cobiçada pelos piratas na Amazônia. A principal rota de ataque é o Rio Madeira, cerca de 400 embarcações trafegam por mês no trecho entre Porto Velho e Manaus, onde ocorrem 50% dos roubos de combustível da Região Amazônica.
Draga e balsa de garimpo no Rio Madeira próximo a Porto Velho (RO) Foto: Karla Mendes? O combustível é a mercadoria mais cobiçada pelos piratas na Amazônia. A principal rota de ataque é o Rio Madeira, cerca de 400 embarcações trafegam por mês no trecho entre Porto Velho e Manaus, onde ocorrem 50% dos roubos de combustível da Região Amazônica. “É uma carga fácil de desviar e vender, pois em todo local da Amazônia se consome combustível”, afirma Claudomiro Carvalho Filho, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Estado do Amazonas (Sindarma).
O Madeira é o rio mais importante da região para o escoamento da produção, por onde passam cerca de 15 bilhões de toneladas de carga por ano. O transporte de grãos representa 6 bilhões de toneladas, enquanto o de combustível soma 3 bilhões de derivados de petróleo e diesel. Os piratas atacam não só as balsas de transporte de combustível, mas saqueiam até mesmo o óleo dos tanques das embarcações.
Próximo à cidade de Porto Velho, o roubo de combustível no Madeira alimenta sobretudo o garimpo ilegal, segundo representantes do setor e autoridades. Estocado em tambores e galões, o combustível é vendido a garimpeiros ao longo do rio, que chegam a ocupar cerca de 2 mil dragas e balsas de garimpo na época de seca do Madeira. Outro destino são postos de combustível ilegais ao longo dos rios.
De olho no aumento das ocorrências de roubo de combustível, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas lançou a Operação Ratos D’Água, em parceria com o Sindarma. Na primeira fase, um software , que entrará em operação em breve, vai registrar todas as embarcações e o volume de combustível que sai de Manaus e comparar com o que chega em Porto Velho, para rastrear o que foi roubado, revelou ao Estado Mauro Sposito, delegado de Polícia Federal aposentado, especializado em crime organizado, e assessor da Secretaria de Segurança. “Queremos descobrir por que some tanto combustível. O combustível vai para o garimpo no Madeira e para a orla de Manaus.”
Na segunda fase da operação, será feito o levantamento de todos os pontos de venda de combustível e de balsas e dragas de garimpo no Madeira. “Vamos prender tudo que estiver irregular”, anuncia Sposito. “Um senhor relatou que lhe roubaram 140 mil litros de gasolina. Como fazem? Colocam no bolso?”, questiona.
Segundo Sposito, a “base do problema” é a refinaria da Petrobrás em Manaus (Reman), de onde são transportados gasolina e óleo diesel para toda a região por caminhos fluviais, incluindo cidades do interior, onde a maior parte da geração de energia é feita por termoelétricas a diesel. Procurados pelo Estado, a Cooperativa dos Garimpeiros da Amazônia e o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes não quiseram comentar a questão.
Aquaviários. Amedrontados pela violência dos piratas, aquaviários estão usando grupos de WhatsApp para comunicar assaltos e facilitar pedidos de socorro.
“Tenho oito grupos de marítimos da região. Durmo com o celular ligado”, conta o comandante Rodolfo Nóbrega, presidente da Federação dos Trabalhadores em Transportes Marítimos e Fluviais dos Estados do Pará e Amapá. “Os piratas usam arma de grosso calibre. A gente não anda nem com segurança nas embarcações.”