11/02/2016
Brasil avança em conhecimento básico de matemática, mas continua atrás em ranking
O número de alunos brasileiros na faixa de 15 anos que estava abaixo do nível de conhecimentos básicos em matemática caiu 18% entre 2003 e 2012.

O Brasil é um dos países que mais reduziram o número de alunos sem conhecimentos básicos de matemática. Mas ainda é um dos últimos colocados em um ranking de competências nessa disciplina, aponta estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicado nesta quarta-feira.

O número de alunos brasileiros na faixa de 15 anos que estava abaixo do nível de conhecimentos básicos em matemática caiu 18% entre 2003 e 2012 (último dado disponível).

A OCDE considera que, para chegar ao primeiro nível, os alunos têm de saber mostrar competências básicas como uma operação de adição.

O estudo, intitulado Alunos de baixo desempenho: por que ficam para trás e como ajudá-los?, divulgado nesta quarta, faz uma nova análise das séries de dados do último estudo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) da OCDE, publicado no final de 2013, com dados de 2012.

Mau desempenho

Apesar da melhora em relação aos conhecimentos básicos, os alunos brasileiros ficaram apenas no 58° lugar em matemática entre os 65 países e territórios analisados no último estudo PISA. Com essa classificação, o Brasil se situa abaixo da Albânia e da Costa Rica.

O Brasil totalizou 391 pontos em matemática, de acordo com o PISA. A média dos países da OCDE é de 494 pontos.

A organização considera que os alunos que ficam abaixo do nível 2 (entre os seis existentes, que evoluem de acordo com o grau de dificuldade das perguntas) nas disciplinas analisadas (matemática, leitura e ciências) terão dificuldades na escola e, mais tarde, no mercado de trabalho, e poderão não ascender socialmente.

Segundo o PISA, 67,1% dos alunos brasileiros com 15 e 16 anos (faixa etária analisada no estudo) estão abaixo do nível 2 em matemática, com baixa performance na disciplina.

Apenas 0,8% dos alunos brasileiros atingiram os níveis 5 e 6 na disciplina, que exigem análises complexas. Em Xangai, na China, primeiro do ranking em matemática, mais da metade dos estudantes (55,4%) integram os níveis 5 e 6, de alta performance.

A OCDE destaca, no entanto, que o Brasil registrou uma das maiores taxas de crescimento no total de pontos em matemática entre 2003 a 2012, passando de 356 a 391 pontos no período.

Mais alunos desfavorecidos

O que explica o fato de o Brasil ainda se manter entre os últimos no ranking de matemática (e também de leitura e de ciências do PISA) é o número maior de alunos, principalmente desfavorecidos e de zonas rurais, que passaram a integrar o sistema educacional, disse à BBC Brasil Sophie Vayssettes, analista de educação da OCDE.

A taxa de escolarização no Brasil passou de 65% em 2003 para 78% em 2012, ressalta Vayssettes.

Programas como o Bolsa Família permitiram maior acesso à educação, diz ela, acrescentando que os novos alunos, desfavorecidos socialmente, "acumulam desvantagens" e geralmente apresentam atrasos de aprendizado em relação aos demais.

"Se a base de comparação no Brasil tivesse se mantido a mesma, se não fossem incluídos os alunos novos que tinham passado anos fora da escola, a pontuação obtida nos testes do PISA seria bem mais alta. Chegamos a fazer uma simulação sobre isso", afirma.

Entre os fatores que permitiram a redução do número de alunos brasileiros sem conhecimentos básicos em matemática, a especialista cita melhorias na formação dos professores, que também passaram a ter incentivos como aumentos salariais e planos de carreira.

Maiores investimentos em educação, que hoje representam 6,1% do PIB brasileiro, a mesma média dos países da OCDE, e também melhoria na qualidade do material pedagógico são outros fatores apontados pela especialista.

Também houve o acréscimo de um ano letivo no antigo sistema primário e o secundário se tornou obrigatório (segundo segmento do ensino fundamental).

"Há uma dinâmica positiva no Brasil em relação à educação", diz a analista.

Os gastos por aluno com idade entre 6 e 15 anos no Brasil, de US$ 26,7 mil (cerca de R$ 103,8 mil) ainda representam, no entanto, apenas pouco mais da metade do montante considerado adequado pela OCDE, que é de US$ 50 mil.

"O Brasil precisa aumentar os gastos por aluno", diz a especialista, acrescentando que é preciso também dar mais recursos para escolas com estudantes desfavorecidos e melhorar o ensino pré-escolar no país.

O Brasil também possui uma das mais altas taxas de repetência entre os 65 países que integram o PISA. Mais de um terço dos alunos com 15 anos (36%) já repetiu de ano pelo menos uma vez.

"A repetência é um fator de abandono dos estudos e de perda da confiança. É preciso criar pedagogias diferentes para motivar os alunos", afirma Vayssettes.





 



Fonte: BBC Brasil
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