Acusado de matar namorada a facadas em 'teste de fidelidade' é inocentado pela Justiça de RO
O primo dele, Diego de Sá Parente, também é acusado pela morte e é o único que vai ser julgado pelo júri popular. A garota foi encontrada morta no dia 24 de abril deste ano, na Linha 4, zona rural de Cerejeiras.
O juízo da 2ª Vara Criminal de Cerejeiras (RO) absolveu Ismael José da Silva, que era acusado de matar a namorada, Jéssica Moreira Hernandes, em abril deste ano. A adolescente de 17 anos foi morta com 13 facadas em um suposto ‘teste de fidelidade’. O primo dele, Diego de Sá Parente, também é acusado pela morte e é o único que vai ser julgado pelo júri popular.
Após duas audiências de instrução, as defesas e o Ministério Público de Rondônia (MP-RO) fizeram as alegações finais. O órgão ministerial ofereceu denúncia contra Ismael e Diego pelo crime de homicídio, com quatro qualificadoras, e ainda pela ocultação de cadáver. Com isso, sustentou que ambos deveriam ser julgados pelo Tribunal do Júri.
Já a defesa de Ismael argumentou que os elementos colhidos durante o processo evidenciou que não existiu autoria por parte dele. O advogado de Diego reiterou as explicações dadas durante as investigações; que o réu somente ajudou a ocultar o corpo e que foi Ismael que cometeu o homicídio, por causa de ciúmes. Ainda ressaltou que Diego ajudou no trabalho da polícia na busca pela verdade.
O juiz Jaires Taves Barreto avaliou todas as provas trazidas nos autos e concluiu que Ismael é inocente. Através dos elementos colhidos, o juízo concluiu que Jéssica foi morta no dia 20 de abril, dia em que desapareceu. A morte aconteceu entre às 8h30 e 9h, na casa da mãe de Diego.
Contudo, documentos e testemunhas constataram que Ismael estava na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Cerejeiras, onde trabalha, no horário da morte de Jéssica. Para acessar o sistema da circunscrição, Ismael precisava inserir um usuário e senha.
Com isso, extratos de movimentação no sistema mostraram que, no momento que a adolescente estava sendo morta, o réu estava utilizando o computador no trabalho. Funcionários também confirmaram que Ismael só saiu da Ciretran após as 10h30 do dia do crime.
O juízo também considerou as imagens de câmeras de segurança, localizadas próximo à Ciretran, que mostraram que o carro de Ismael só saiu do local às 11h16. Além disso, através das mensagens transcritas do celular de Ismael, foi possível conferir que ele mandou uma mensagem para Jéssica às 9h35, perguntando o que ela fazia.
Como não teve resposta, Ismael conversou com a mãe da adolescente, e perguntou se a garota foi para o hospital, já que ela disse horas antes que não estava bem.
Com base nessas e em outras provas, o juiz concluiu que Ismael não teve participação na morte da namorada e determinou sua liberdade. A advogada Shara Eugênio de Souza informou que Ismael saiu do presídio após a decisão e que está em casa, com familiares.
Diego
O juízo considerou que embora Diego negue a prática de homicídio, os indícios de autoria são fortes contra ele. O réu descreveu de forma detalhada a dinâmica dos fatos.
Além disso, conversas registradas em um aplicativo, mostraram que Jéssica foi até a casa da mãe de Diego, conforme o combinado entre os dois anteriormente.
Documentos e testemunhas constataram também que Diego comprou a lona e pediu a caminhonete emprestada. Imagens de uma câmera de segurança mostraram a caminhonete, que supostamente transportou o corpo de Jéssica, passar pela Avenida São Paulo, sentido ao local em que o corpo foi encontrado, às 9h33.
A bolsa de Jéssica foi encontrada na caixa de gordura na residência de Diego. Laudos periciais confirmaram que o homicídio aconteceu na casa da mãe de Diego, mesmo local onde foram encontradas a bicicleta da garota e as duas camisas sujas de sangue, utilizadas por Diego.
Uma testemunha ainda enfatizou que viu Jéssica na casa, conversando com Diego, até que ambos ingressaram no interior da residência, onde aconteceu o homicídio.
Por esses e outros motivos, o juiz concluiu que existe um conjunto probatório para atribuir a Diego indícios suficientes de autoria, e com isso, ser julgado pelo Tribunal do Júri.
A reportagem entrou em contato com o advogado Fernando Milani e Silva, que representa Diego, mas ele disse que não irá comentar a decisão.
Relembre o caso
Jéssica saiu de casa de bicicleta no dia 20 de abril deste ano. Ela ficou desaparecida por quatro dias e a família mobilizou a cidade em busca de informações. A população fez diversas postagens e compartilhamentos em redes sociais em busca da jovem.
A garota foi encontrada morta no dia 24 do mesmo mês, na Linha 4, zona rural de Cerejeiras. No dia seguinte, o namorado Ismael e o primo dele, Diego, foram presos temporariamente por envolvimento no crime. A mul her de Diego também chegou a ser presa, mas foi liberada por falta de provas.
Diego contou à Polícia Civil que Ismael era um namorado extremamente ciumento, e estava desconfiado da infidelidade de Jéssica. Por conta disso, o chamou para fazerem um teste de fidelidade com a garota. Depois de organizarem o plano, Diego atraiu Jéssica para o local do crime sobre a argumentação de que possuía provas de uma suposta traição d e Ismael.
“Diego disse que Jéssica confessou que traiu Ismael, mas talvez ela tenha até mentido na ânsia de receber a informação dele. Alguma coisa que Jéssica falou despertou a ira de Ismael. Segundo Diego, após a confissão, Ismael perdeu o controle. Ele estava com um pedaço de ferro na mão, entrou na cozinha e falou: ‘então é isso’. Nisso a Jéssica vira, leva um golpe na cabeça e desmaia”, disse o delegado Rodrigo Spiça, em entrevista em abril.
Em seguida, segundo a versão de Diego, Ismael esfaqueou a namorada até a morte. Eles embalaram o corpo em uma lona e o colocaram na carroceria de uma caminhonete. Diego ficou responsável por limpar os vestígios de sangue da casa e por se livrar da bicicleta, enquanto Ismael escondeu o cadáver, a bolsa e o celular da vítima.
No mês de maio, o delegado pediu a prorrogação da prisão dos suspeitos, e a Justiça acatou o pedido, prorrogando a detenção por mais 30 dias. No inicio de junho, o celular de Jéssica foi encontrado na zona rural de Cerejeiras e entregue à polícia.
O delegado Rodrigo Spiça confirmou que o aparelho pertencia à vítima e o encaminhou para perícia.
Depois disso, Ismael e Diego foram indiciados por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Em julho, a advogada de Ismael, Shara Eugênio de Souza, declarou que a família de Jéssica acreditava na inocência do namorado. A mãe da adolescente confirmou a informação.
Testemunhas e réus foram ouvidas em duas audiências de instrução no mês de agosto, e depois MP-RO e defesas fizeram as alegações finais.