Garota se muda de RO após ter vídeo de sexo vazado na web: 'vontade era de morrer'
A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) está investigando as circunstâncias do caso. Dois homens, suspeitos de envolvimento no crime, já foram identificados pela polícia.
Depois de ter um vídeo de sexo vazado no WhatsApp, uma jovem de 18 anos decidiu mudar-se de Vilhena (RO) por causa das piadas e julgamentos de internautas. Segundo a vítima, que prefere não se identificar, o vídeo foi gravado no mês passado sem autorização e ela afirma que não se lembra dos atos sexuais. "Minha vontade era de morrer", afirma a vítima, que agora mora no Mato Grosso.
A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) está investigando as circunstâncias do caso. Dois homens, suspeitos de envolvimento no crime, já foram identificados pela polícia.
A jovem relatou que estava ingerindo bebidas alcoólicas com amigos, em uma lanchonete da cidade. À noite, quando ela saia do estabelecimento, dois homens ofereceram carona para a garota. Ela conta que estava embriagada, aceitou o convite, e acordou em casa no outro dia, passando mal.
“Minha última lembrança foi no estacionamento. Depois disso me deu um branco. Acordei mal, fui trabalhar, mas como não estava bem, me levaram para o hospital. No outro dia, uma amiga mandou mensagem perguntando se eu estava bem, que estava preocupada comigo, pois ela havia visto as imagens. Eu não acreditei e ela mandou uma foto para mim. Eu nem sabia que aquilo tinha acontecido”, relata.
Depois disso, as imagens foram compartilhadas em um aplicativo de mensagens e a vítima começou a receber dezenas de mensagens de amigos e solicitações de amizade em uma rede social.
Com isso, ela entendeu que não eram apenas fotos, e sim, que também havia um vídeo sendo disseminado nos celulares.
“Eu fiquei em choque. Não conseguia parar de chorar. Não me recordo de absolutamente nada do acontecido. O que eles [suspeitos] fizeram, eu não desejaria nem para o meu pior inimigo. É como se minha vida tivesse acabado, depois do que aconteceu”, explica.
Após saber que as imagens haviam sido vazadas e compartilhadas, a vítima denunciou o caso na Delegacia de Polícia Civil e passou por exame de corpo de delito.
“Minha vontade mesmo era de morrer, porque na hora veio a minha família toda na minha cabeça; todo mundo vendo aquilo. Quando eu saí na rua, fiquei com medo. É muito estranho as pessoas me olhando; parece que todos sabem, que todo mundo me viu”, desabafa.
Diante da situação, a garota pediu demissão do emprego, onde trabalhava como garçonete e agora está morando em uma cidade do Mato Grosso.
“A pior das dores foi saber que todos meus parentes viram. Minhas tias me mandaram mensagens chorando, desesperadas. Foi a pior sensação que já tive, foi como se eu tivesse morrido. Quando minha mãe ficou sabendo, viajou de madrugada até Vilhena. São cenas que não saem da minha cabeça”, lamenta.
A vítima diz que ainda não sabe se retornará para cidade, e espera que os suspeitos sejam punidos.
“Me sinto muito mal com isso tudo. Eu fico me culpando; em nem devia ter saído de casa. Me sinto culpada pelo sofrimento da minha família. Agora sinto medo, fico insegura. Uns caras começaram a fazer perfis fakes e mandar mensagens para minha mãe, para minhas irmãs, perguntando onde eu estava”, conta.
Perguntada, a garota diz que lhe ofereceram tratamento psicológico no município, mas como ela foi embora, não chegou a fazer as consultas.
“Quero dizer a todos que me julgam mal, que ninguém sabe o que ocorreu no dia, então ninguém pode opinar, nem julgar”, conclui.
Repercussão
O caso gerou repercussão nas redes sociais. No perfil do Facebook, a vítima tem recebido várias mensagens, inclusive de pessoas que não a conhecem. Uma usuária comentou: “Não lhe conheço mas me se sensibilizei com todo esse terror que está acontecendo com vc...Mas fica firme, Deus sabe de todas as coisas.confie no Senhor e o mais Ele fará” (sic).
Outra mulher disse: “Não te conheço, mas fiquei mt triste vendo os comentários a seu respeito. As pessoas infelizmente não se põe no lugar das outras, julgam as outras como s fossem santas. Vou orar por vc para que isso tudo passe e que a justiça seja feita. Lembre que o único que pode te julgar é Deus” (sic).
Um homem escreveu: “Infelizmente tem esses tipo de pessoas no nosso mundo o que fez com essa menina foi uma covardia acabando com a moral a vida dela toda que vai ter pela frente hj eles tao rindo pelo que fez vamos ver o dia de amanha eles vao ter um filho ai quero ver se fizerem o mesmo se eles vão rir como hj me desculpa mais isso nao é homem não e vagabundos que nao deve estar no meio de pessoas boa” (sic).
Investigação
A delegada titular da Deam, Solângela Guimarães, explica que um inquérito policial foi instaurado e apura o cometimento de dois crimes: difamação e o delito previsto no artigo 215 do Código Penal, que expõe sobre “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”.
“Estamos investigando se essa jovem manteve relação sexual sem ter conhecimento do que estava acontecendo, ou porque ela estava sobre o efeito de alguma substância entorpecente ou muito embriagada, que impossibilitou ela de resistir”, explica.
Em depoimento, a vítima afirmou que não se lembrava dos atos sexuais. Depois de sair no carro com os dois homens, ela teria sido levada para um local ermo, onde as imagens foram feitas.
“As pessoas comentam que no vídeo ela está participando, mas têm alguns tipos de drogas, como o ecstasy, que as pessoas ficam mais ativas do que são. Isso não quer dizer que ela tinha ciência que estava praticando aquele ato”, ressalta.
A pena para o crime de ter conjunção carnal, mediante fraude, é de dois a seis anos de reclusão. Para o crime de difamação, a pena é de três meses a um ano de detenção, além de multa. A pena pode ser aumentada em um terço, se o meio utilizado facilitou a divulgação da difamação.
“Em nenhum momento do vídeo dá a entender que ela sabia da filmagem. Ela está sempre de costas. Identificaram ela por causa de uma tatuagem. Então, ainda que ela tivesse ciência do ato sexual, ela poderia não ter ciência da filmagem. E ainda que ela tivesse ciência da filmagem, não daria o direito deles divulgarem”, enfatiza a delegada.
Solângela ressalta que as investigações estão em curso e que os dois suspeitos de envolvimento já foram identificados.
“Estamos ouvindo testemunhas, e já ouvimos a vítima. Os suspeitos devem ser ouvidos por último e podem ser indiciados pelos crimes de difamação e ter conjunção carnal mediante fraude. Isso não é uma brincadeira de mau gosto e as pessoas devem denunciar”, enfatiza Solângela.