Investimento em saúde pública em Rondônia ajuda prematuros a terem mais chances de sobreviver
A UTI Neonatal do HB possui 24 leitos e há crianças que chegam a ficar até cinco meses no local, o que depende do ganho de peso e das condições clínicas.
Emanuel era esperado para nascer em novembro, mas o parto aconteceu aos seis meses de gestação. Uma surpresa para a estudante Luana Tainara Dilas Borges, 18 anos. Mãe pela primeira vez, ela conta que o nascimento prematuro do filho trouxe amadurecimento e força. Ele chegou a ser desenganado pelos médicos três vezes, mas luta pela vida na UTI Neonatal do Hospital de Base Ary Pinheiro. ‘‘Meu sonho é sair daqui com ele nos braços’’, afirma Luana.
A UTI Neonatal do HB possui 24 leitos e há crianças que chegam a ficar até cinco meses no local, o que depende do ganho de peso e das condições clínicas. Emanuel está há três meses na UTI. ‘‘Estava fazendo o pré-natal tudo direitinho e de uma hora para outra a placenta descolou. Aí quando ela estava quase se recuperando a minha bolsa estoura. Então eles me encaminharam de Cacoal para Porto Velho, onde ele nasceu’’, conta.
Luana não se afasta por muito tempo do filho. Desde às 9h até 18h ela fica o lado do Emanuel todos os dias. ‘‘Eu me sinto segura perto dele. Se eu ficar um dia sem vir, fica faltando algo em mim’’. Sem previsão que ele tenha alta, Luana segue confiante de que o filho logo se recupere, afinal, tão pequeno já possui uma história de superação. ‘‘Já deu convulsão nele, falta oxigênio no cérebro dele, deu hemorragia, fungos, bactérias. Já era para ele ter ido, foi desenganado três vezes, mas ele é forte, ele está lutando’’, disse.
De acordo com a chefe da UTI Neonatal do HB, referência nos partos com graves complicações, Andrea Castro, o nascimento de bebês prematuros como o Emanuel é comum no local. “Um terço dos nascidos vivos são prematuros. Em 2016, de três mil partos realizados, cerca de 1.080 nasceram antes da gestação completa e esse ano continua sendo um terço’’, explica Andrea.
O Brasil, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), ocupa a 10ª posição no ranking mundial de prematuridade. O problema, segundo a chefe da UTI Neonatal do HB, está relacionado principalmente a doenças maternas como diabetes, hipertensão, infecções de urina, uso de drogas lícitas e ilícitas, gestações múltiplas e ausência de acompanhamento pré-natal.
O setor de obstetrícia do hospital se mobiliza para evitar que as gestações resultem em partos prematuros e concentram o esforço no controle da pressão arterial e da diabetes, assim como outros fatores envolvidos. Mas quando o parto antecipado acontece, é preciso voltar todos os esforços para que o bebê tenha condições de sobreviver ainda que não tenham completado toda a formação dentro do útero.
‘‘Quanto mais prematuro, mais complicações ele tem, porque ele vem menos, estruturalmente e fisiologicamente, preparado para o mundo. Então os prematuros nascem com desconforto respiratório, podem ter insuficiência renal e ter riscos de várias complicações pós-parto e até adolescente eles devem ser acompanhados’’, afirma Andrea. No HB, toda equipe de mobiliza para minimizar essas sequelas.
Uma das estratégias é o método canguru, que reúne uma série de cuidados para bebês e estimula os vínculos materno e paterno. ‘‘Quando eu cheguei aqui, há 14 anos, não tinha a menor condição, eles não sobreviviam. Hoje em dia essa não é mais a nossa realidade’’, afirma. Trabalho em conjunto e equipamentos adequados dão mais esperança para os prematuros. ‘‘Antes tínhamos três respiradores para atender toda a demanda, agora temos mais de 20’’, comemora os avanços neste mês em que se comemora Dia Mundial da Prematuridade(17/11).
A chefe da UTI Neonatal do HB orienta que as mulheres conheçam mais sobre a própria saúde e tratem em caso de hipertensão, diabetes e infecções urinárias. Além fazer o pré-natal corretamente. ‘‘Em uma semana, temos uma média de cinco casos de mulheres que não fizeram o pré-natal’’, conta.
Em cada pequeno leito, pequenos guerreiros como Emanuel resistem bravamente a todos os desafios da prematuridade. Famílias e médicos se unem para garantir que eles tenham mais chance de sobreviver. Todo o esforço é recompensado quando pelo menos um deles recebe alta. ‘‘É uma sensação de dever cumprido’’, afirma Andrea. Luana e várias mães aguardam ansiosas por este dia. Uma incerteza carregada de esperança.