Daqui a cinco meses, os brasileiros vão às urnas, num pleito que deve repetir pulverização de 1989. Dinheiro, tempo de TV, alianças e tamanho das legendas podem fazer a diferença. Uma análise do atual cenário eleitoral.
A eleição presidencial de 2018 deve ser uma das mais imprevisíveis desde 1989. A cinco meses do primeiro turno, marcado para 7 de outubro, o candidato favorito está preso e ameaçado de ficar fora da disputa. Até agora 17 outros pré-candidatos já anunciaram que pretendem concorrer.
Oficialmente, a largada da campanha eleitoral é em agosto. Ainda não é possível apontar se todas as pré-candidaturas vão estar de fato nas urnas, mas já começa a surgir um retrato dos pontos fortes e dificuldades a serem superadas pelos postulantes ao Palácio do Planalto.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Lula tem um patrimônio eleitoral invejável: aparece com até 31% das intenções de voto em pesquisas. Em 2011, deixou a Presidência com mais de 80% de aprovação e ainda possui um eleitorado cativo na região Nordeste. Seu partido ainda vai contar com um minuto e meio de tempo de TV e com a segunda maior fatia do fundo de campanhas: 212 milhões de reais.
Mas o ex-presidente está atrás das grades desde o início de abril. Por peculiaridades da legislação brasileira, poderia concorrer preso, mas seus planos estão ameaçados pela Lei da Ficha Limpa, que barra candidatos condenados em segunda instância. Nas últimas eleições, o PT foi punido pelo eleitorado, perdendo 60% das suas prefeituras.
Sem Lula, o partido deve enfrentar dificuldades em fechar alianças que garantam a cabeça de uma chapa. Eventuais substitutos, como o ex-prefeito Fernando Haddad, ainda patinam nas pesquisas, mal alcançando 2%. O poder de transferência de votos de Lula também está em questão. Por enquanto, os maiores herdeiros seriam Marina Silva e Ciro Gomes, de outras legendas.
Jair Bolsonaro (PSL)
Mesmo sem ainda ter colocado em prática uma campanha profissional nas ruas, o ex-militar conseguiu alcançar até 17% das intenções de voto.
Com mensagens simplistas em temas como lei e ordem e desprezo pela esquerda, o deputado veterano conseguiu se tornar um fenômeno das redes sociais e parece fadado a acumular a melhor votação de um membro da extrema direita na história do país. Bolsonaro também vem se apoiando na percepção de que seu nome não foi envolvido até agora em denúncias relevantes de corrupção.
Apesar dos números, Bolsonaro vai disputar pelo PSL, sigla nanica que teve desempenho insignificante nos últimos 20 anos, e larga inicialmente com apenas 10 milhões de reais do fundo eleitoral e oito segundos de tempo de TV.
Pesa ainda contra o deputado seu histórico parlamentar. Ele nunca foi um ator de destaque em negociações e articulações no Congresso e raramente é consultado por líderes partidários. Tudo isso – somado ao fato que o deputado tem o pavio curto e imagem de intolerante – deve se refletir sobre sua capacidade de montar alianças. Sua rejeição em pesquisas chega a 31%, a quarta pior entre os pré-candidatos.
Mariana Silva (Rede)
Ex-ministra e veterana de duas disputas presidenciais, Marina Silva conta com até 15% das intenções de voto sem Lula na disputa e, hoje, seria a principal beneficiada por uma eventual saída do petista.
Com uma biografia com forte apelo popular e sem escândalos no currículo, tem uma rejeição de 22% ao seu nome, o que deixa o campo aberto entre a maior parte do eleitorado.
Por outro lado, seu partido, a Rede, conta com apenas seis prefeitos, dois deputados e um senador. Na disputa, Marina vai largar inicialmente com apenas 12 segundos de TV e 10,7 milhões de reais do fundo de campanhas. Ela precisa fechar alianças com outros partidos, mas seu próprio histórico na Rede demonstra suas dificuldades de conciliação. O partido perdeu recentemente dois deputados, ficando sem uma bancada mínima para garantir lugar nos debates televisivos – Marina só deve comparecer se receber convite.
Marina também deve enfrentar dificuldades para encontrar aliados em outras legendas. A possível entrada de Joaquim Barbosa na disputa deve afastar o PSB, o antigo partido de Marina. Outras siglas, como o PPS, também parecem mais inclinadas em apoiar Alckmin. Assim, só sobrará para a candidata procurar o apoio de siglas nanicas.
Ciro Gomes (PDT)
Ex-ministro e ex-governador, Ciro é um veterano de disputas presidenciais – concorreu em 1998 e 2002. Por enquanto tem até 9% das intenções de voto sem Lula na disputa e parece bem posicionado para herdar votos do petista. Existem até mesmo figuras do PT que defendem uma aliança com o pré-candidato. Ciro também é bastante conhecido no Nordeste e sua rejeição é de 23%.
Ao mesmo tempo o ex-ministro é rejeitado pelo mercado financeiro e é conhecido por ser destemperado. Em 2002, sabotou a própria campanha ao conceder declarações desastradas. Mesmo uma eventual aliança com o PT deve esbarrar em dificuldades. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que Ciro "não passa no PT nem com reza brava”. Na esquerda, ele também tem pouca penetração entre movimentos sociais.
Ciro vai largar com 61,1 milhões de reais do fundo eleitoral. Tem apenas 34 segundos de tempo de TV – o que leva sua candidatura a depender muito de alianças.
Joaquim Barbosa (PSB)
Barbosa chegou fazendo barulho na primeira pesquisa eleitoral após a sua filiação ao PSB. Mesmo tendo permanecido longe dos holofotes nos últimos anos, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal apareceu com até 10% das intenções de voto sem Lula na disputa.
Joaquim Barbosa no momento vem dizendo que não tem nem mesmo certeza de que vai se candidatar
Em uma eleição em que o sistema político está desacreditado, tem possibilidade de se beneficiar da imagem de outsider. Seu partido, o PSB, é bem estruturado nacionalmente. Vai contar com 118,8 milhões do fundo eleitoral. A sigla está sendo bastante assediada por outras legendas para discutir possibilidades de alianças. A percepção do perfil de Barbosa – intolerante com a corrupção, de origem humilde e sensível a temas sociais – também pode ajudar a capturar eleitores de diferentes matizes políticas.
Por outro lado, Barbosa nunca disputou uma eleição e não tem experiência política ou já passou por algo similar ao desgaste de uma candidatura nacional. Também é conhecido pelo pavio curto. No STF, se envolveu em brigas com outros ministros. No momento, vem dizendo que não tem nem mesmo certeza de que vai se candidatar.
Geraldo Alckmin (PSDB)
O ex-governador de São Paulo tem à sua disposição uma das maiores máquinas partidárias do país. Vai contar com 185,8 milhões de reais do fundo de campanhas e 78 segundos de tempo de TV. Alckmin também é um favorito do mercado financeiro.
Só que, apesar de ter uma carreira política sólida, ele não tem conseguido entusiasmar o eleitorado do seu próprio estado. Segundo pesquisa Ibope, tem 14% das intenções de voto em São Paulo. O histórico do tucano também não é promissor. Ele já foi derrotado em uma disputa presidencial em 2006. Sua campanha conseguiu perder votos entre o primeiro e segundo turno na ocasião, um fato inédito em eleições.
O PSDB também é conhecido pelas divisões internas. A entrada em cena de Barbosa também coloca mais um adversário na disputa pelos votos de centro e vem afastando uma possível aliança entre PSDB e PSB. Bolsonaro também esvazia o eleitorado de direita que votaria no tucano caso a disputa fosse mais uma vez restrita ao PSDB e ao PT.
Um provável aliado do PSDB nestas eleições, o DEM, também demonstra pouco entusiasmo com o ex-governador. Nos melhores cenários para os tucanos, Alckmin só conta com 8% das intenções de voto – em maio de 2014, Aécio Neves tinha até 20%. Por fim, Alckmin também viu seu nome ligado à Operação Lava Jato.
Alvaro Dias (Podemos)
Com até 4% das intenções de voto, Dias vem alimentando sua pré-campanha com discurso moralizador contra a corrupção. No seu estado, o Paraná, o quarto mais rico do país, Dias é um senador popular. Foi eleito com 77% dos votos válidos em 2014.
Mas fora da sua base Dias ainda é largamente desconhecido. Se insistir na candidatura, deve ainda sofrer com a falta de estrutura do seu partido. O Podemos, versão repaginada do antigo PTN, nunca passou de uma sigla nanica. É praticamente propriedade de um clã paulista que sempre emprestou seu apoio para candidatos mais conhecidos como Dilma e Aécio. A sigla vai contar com 36,1 milhões de reais do fundo eleitoral e apenas 12 segundos de TV.
Fernando Collor (PTC)
O senador aparece com até 2% das intenções de voto. Ex-presidente, caiu em desgraça após perder o cargo em 1992 e tem poucos pontos a seu favor, além do fato de ser conhecido nacionalmente. Sua rejeição chega a 41% do eleitorado. Ele também vai disputar a eleição por uma sigla nanica, o PTC, que conta com apenas 6,3 milhões do fundo eleitoral e oito segundos de TV.
Manuela D'ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL)
Os dois candidatos de esquerda são rostos novos nas eleições e contam com pouca rejeição entre o eleitorado. A deputada Manuela D'ávila tem conseguido aumentar seu apelo entre os jovens por meio das redes sociais. Por enquanto, tem até 3% das intenções de voto. Já o líder sem-teto Boulos, por outro lado, mal aparece pontuando nas pesquisas e segue amplamente desconhecido.
O PCdoB vai largar com 30,6 milhões de reais do fundo eleitoral e 17 segundos de tempo de TV. Boulos por enquanto tem 13 segundos e 21,4 milhões. Apesar de parecerem herdeiros naturais de Lula, ambos não conseguiram por enquanto ampliar significativamente sua fatia nesse eleitorado.
Michel Temer (MDB), Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles (MDB)
A pré-candidatura do impopular Temer não está sendo levada a sério em nenhum círculo político. É vista mais como uma tentativa do presidente de se manter relevante e poder influenciar a disputa, já que controla uma poderosa máquina de recursos e favores. Sua rejeição alcança 64%, a maior de todos os pré-candidatos.
Meirelles, por sua vez, se filiou ao MDB do presidente sem garantias de que será o candidato. Encarado por alguns setores do mercado como uma esperança de centro, por enquanto não decolou. Nos melhores cenários tem apenas 1% das intenções. Sua rejeição chega a 17%.
O MDB tem uma das mais poderosas máquinas políticas do Brasil. Conta com mais de mil prefeitos, seis governadores, 19 senadores, 51 deputados federais, além de 234,3 milhões do fundo eleitoral e 86 segundos de tempo de TV. No entanto, o partido é conhecido pela desunião e divisão em feudos regionais, que sempre enterraram potenciais candidaturas próprias nas últimas décadas.
Já Maia também sempre foi ruim de voto. Recebeu 53 mil votos nas eleições de 2014 e só entrou na Câmara puxado por votos da sua chapa. Ele não passa por enquanto de 1% das intenções. O DEM vai contar com 28 segundos de TV e 89 milhões de reais.
Joao Amoêdo (Novo), Flávio Rocha (PRB) e Paulo Rabello de Castro (PSC)
Três outsiders, os candidatos podem ter apelo por não fazer do establishment político. Todos têm baixa rejeição. Rocha é ex-presidente do BNDES, Castro é empresário, Amoêdo, banqueiro. Por enquanto, nenhum conseguiu passar de 1% nas pesquisas.
Suas candidaturas são encaradas por enquanto apenas como potenciais fontes de sangria de alguns votos de candidatos de centro e de direita. Todos enfrentam problemas com o fato de serem desconhecidos e com a falta de estrutura de suas legendas.