O modelo de redemocratização brasileiro, que perdurou 30 anos, baseava-se em um certo equilíbrio produzido pelo imobilismo. Desde o momento em que FHC se sentou com ACM e o PFL para estabelecer a "governabilidade", a sorte da Nova República estava selada.
Desde 1985 com a redemocratização do Brasil, os partidos terão que se reorganizar afim de enfrentarem o futuro político. Qualquer análise honesta da situação brasileira atual deveria partir dessa constatação. O modelo de redemocratização brasileiro, que perdurou 30 anos, baseava-se em um certo equilíbrio produzido pelo imobilismo.
Desde o momento em que FHC se sentou com ACM e o PFL para estabelecer a "governabilidade", a sorte da Nova República estava selada. Frentes heteróclitas de partidos deveriam ser montadas acomodando antigos trânsfugas da ditadura e políticos vindos da oposição em um grande pacto movido por barganhas fisiológicas, loteamento de cargos e violência social brutal.
O resultado foi um sistema de freios que transformou os dois maiores grupos oposicionistas à ditadura (o PT e o núcleo mais consistente do PMDB, a saber, o que deu no PSDB) em gestores da inércia. Com uma "governabilidade" como essa, as promessas de mudanças só poderiam gerar resultados bem menores do que as expectativas produzidas.
Mesmo que Bolsonaro seja o mais fiel dos defensores da Constituição, sua chegada ao poder de forma legítima representa a ruptura com aquilo que Geisel começou a construir em 1974, e que tinha como pré-requisito o controle da tigrada que, segundo Elio Gaspari, “na anarquia ronca, confrontada recua”. A anarquia do governo Temer abriu espaço para o reingresso das Forças Armadas na política. A campanha de Bolsonaro trouxe o ronco da tigrada que ele mesmo diz não controlar. Precisaremos da rearticulação de um centro democrático para conter o que virá.
A onda bolsonarista colocou no poder nomes que são desconhecidos, simplesmente porque o modelo político tradicional entrou em colapso. O PSDB se reduziu em 70% do que era. O PSB viu seu sonho em ter São Paulo em vão. Dória só foi eleito por causa da rejeição à esquerda do PSB de França. O PT conseguiu se eleger em quatro estados do Nordeste por conta de Lula. O MDB se limitou a três estados (DF, AL e PA) sem peso eleitoral e econômico. Aos Democratas (DEM), sobraram-lhe dois estados (GO e MT) por falta de opção e Bolsonaro os elegeu. O único vencedor dessa eleição foi Bolsonaro que conseguiu arrastar 17 estados consigo. Até aqueles que criticavam no passado o “mito” precisaram colar nele para conseguir algum êxito. Que comece a Nova República.