Transplantes de órgãos trouxe vida nova a centenas de pacientes rondonienses em 2018
Os procedimentos são realizados no hospital de Base Dr. Ary Pinheiro há quatro anos e, até o momento, foram realizados 74 transplantes de rim e 410 de córnea, além disso, cerca de 500 pacientes que realizaram transplantes de fígado.
Foto: Frank Néry/Secom - Governo de Rondônia Neste ano em Rondônia, 116 pacientes voltaram a enxergar o mundo e todas suas cores quando receberam de um doador uma córnea, por meio de transplante realizado no Centro de Transplantes, em Porto Velho. O transplante de rim deu novo sentido à vida de dez pacientes. São pessoas que voltaram a viver com qualidade de vida e pouco a pouco retomam a rotina que vivenciavam antes do procedimento. Em 2017 foram 99 transplantes de córnea e 10 de rim.
Os procedimentos são realizados no hospital de Base Dr. Ary Pinheiro há quatro anos e, até o momento, foram realizados 74 transplantes de rim e 410 de córnea, além disso, cerca de 500 pacientes que realizaram transplantes de fígado são acompanhados pelas equipes da Central de Transplantes.
Em Rondônia, em média 90 pacientes aguardam na fila de espera para receberem doação de um rim e 187 pacientes por uma córnea, órgãos que vão contribuir com a melhoraria na qualidade de vida de todos e, para muitos, a certeza de que seus dias de vida serão prolongados.
A média de pacientes que enfrenta complicações nos rins é alta em Rondônia, são quase 900 pessoas realizando hemodiálise no Estado e muitos precisam do transplante de maneira urgente. O tempo de espera de pacientes receptadores de córnea é de cerca de 11 meses, já o rim, não é possível aferir, segundo Edcléia Gonçalves, enfermeira, gerente da Central de Transplantes, pois é necessário existir compatibilidade entre os doadores. “É como ganhar na mega-sena”, resume. “Há pacientes que estão na fila de espera há cerca de cinco anos e não chega a vez dele. Há outros que aguardam por meses e conseguem um doador compatível”, explica.
DOAÇÃO
Em vida, só é possível doar órgãos duplos, como os rins, outros casos dependem de morte encefálica do doador, por isso qualquer informação em vida é importante, uma vez que a lei brasileira só permite doação de órgãos mediante a autorização da família. “Avise sua família que é um doador”, diz Edcléia.
A recusa de doações por parte das famílias de Rondônia ainda é alta, de acordo com Edcléia, corresponde a 56%, ou seja, em cada 10 solicitações, cerca de seis famílias não aceitam doar os órgãos de seus ente queridos, mas este índice já foi pior, no ano de 2015 a recusa correspondia a 77% das famílias.
Em vida, voluntários podem doar um rim para familiares até o quarto grau do paciente. Já a córnea só pode ser doada após a morte do doador e qualquer pessoa pode doar, independente se em vida teve problema de visão, como astigmatismo ou miopia. Em Rondônia a maioria dos pacientes que precisam fazer transplante de córnea são idosos.
CAPTAÇÃO
Equipes estão sempre prontas a buscar órgãos quando são convocadas a qualquer momento e os profissionais vão onde estão os doadores – podendo ser no interior no Estado – mas o processo precisa ser rápido. No caso dos transplantes de rim deve ser feito em até 24 horas, a partir do momento em que o órgão foi retirado do doador. Já a córnea passa a fazer parte do Banco de Córneas do Hospital de Base e o procedimento pode ser realizado em até 14 dias.
A alta de pacientes que recebem córnea costuma ser um dia após a cirurgia, a alta para os pacientes que receberam rim dura em média cinco dias, a partir daí passam a ter uma vida normal, mas que requer acompanhamento, no caso do rim, para o resto da vida. “Os dois pilares do transplante são: salvar a vida e melhorar a qualidade de vida da pessoa, mas em tratamento”, alerta Edcléia.
Essa realidade faz parte da vida de José Izidoro Dinis, que ganhou um rim novo em fevereiro de 2017. Ele faz parte do ranking dos primeiros 50 pacientes que realizaram o transplante no Centro de Transplantes, em Rondônia, no hospital de Base Dr. Ary Pinheiro. José Izidoro travou uma luta de sete anos até chegar o momento de receber um novo órgão, que veio da doação de seu irmão mais velho. “Os médicos analisaram e viram que temos uma compatibilidade boa e decidiram fazer o procedimento. Isso mudou completamente a minha vida porque antes eu vivia preso e agora estou livre”, arremata.
RECEBEU O RIM DE PRESENTE DO IRMÃO
Estar preso para José Izidoro refere-se ao fato de ter que fazer sessões de hemodiálise três vezes por semana durante quatro horas. Essa era a rotina dele, que agora comemora viver de maneira mais saudável. “Mas tenho cuidados, não exagero, não carrego peso, faço tudo direito”, diz.
José Izidoro descobriu por acaso que estava com problemas nos rins. Um dia, no sítio de seus pais, no interior de Rondônia, lembra que sentiu indisposição e falta de apetite. Foi fazer exames e para surpresa dele e do médico, o resultado indicava que estava com 80% dos rins parado. “Entrei em choque, mas mesmo no período que fiz hemodiálise tinha a esperança que meus órgãos pudessem voltar a funcionar normal”, lembra. Mas não foi o que aconteceu e nos próximos passos José Izidoro descobriu que a causa inicial do problema era pressão alta, mas no caso, ele não sentia os sintomas, portanto não identificou que seu corpo estava funcionando de maneira descompassada. “Por isso é importante cuidar da saúde. Fazer consultas periódicas sem precisar estar doente, minha situação poderia ter sido diferente, mas quando descobri já era tarde”, diz.
Em relação ao transplante de órgãos, José Izidoro convida a população a repensar o assunto, pois somente assim as pessoas se tornam sensíveis à causa: “infelizmente as pessoas estão correndo atrás somente de seus interesses. Vi casos de pessoas morrerem ao meu lado e que tinha oito irmãos, que poderiam ajudar e não se ofereceram. Também vi pessoas que não aceitaram doar por vaidade, para não ter o corpo cortado. Isso é muito triste, pois poderiam ajudar a salvar uma vida”, lamenta. “Eu já era ligado ao meu irmão e agora mais ainda, sou feliz e grato a ele por isso. Não precisa ter medo de ser doador, hoje meu irmão vive uma vida normal e serve de exemplo. Incentivo às pessoas a olharem com carinho para a doação de órgãos”, finaliza.