O novo presidente brasileiro, o ultradireitista Jair Bolsonaro, é esperado na próxima semana no Fórum Econômico Mundial de Davos juntamente com seus principais ministros, o da Economia, o liberal Paulo Guedes, e o da Justiça, o mítico juiz Sérgio Moro. Eles são aguardados com a mesma expectativa que em outros anos cercava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encarnava a nova esquerda democrática da América Latina.
Bolsonaro se prepara para chegar ao frio de Davos como quem derrotou a esquerda de Lula que se corrompeu com suas relações mafiosas com os grandes empresários. E chega levantando duas bandeiras do que chama de “nova era” do Brasil: a da recuperação de uma economia deteriorada pelos Governos de Dilma Rousseff, com 14 milhões de desempregados, e a da luta contra a corrupção, encarnada em seu ministro da Justiça, que levou Lula e boa parte da elite do Partido dos Trabalhadores para a prisão.
Foram essas bandeiras, juntamente com a prometida guerra contra a violência que castiga o país com 63.000 homicídios ao ano, que levaram 57 milhões de brasileiros a depositar sua confiança no novo presidente, que, sem ter biografia, chegou ao poder como uma repulsa contra a velha política e seus escândalos de corrupção.
Mas a presença de Bolsonaro e de seus ministros em Davos pode acabar ficando seriamente manchada se, antes de seu embarque para a Suíça, não se dissiparem definitivamente as suspeitas de corrupção que cercam seu filho mais velho, o senador eleito Flávio Bolsonaro, um caso que está crescendo a ponto de dar a impressão de que se quer ocultar algo debaixo do tapete, como as clássicas faxinas da velha política. Algo que começa a preocupar, por exemplo, não só a dúzia de militares presentes em seu Governo, algo inédito desde os tempos da ditadura, mas também muitos de seus seguidores fiéis que o elegeram como o novo Dom Quixote que prometia limpar o país da corrupção.
Por tudo isso, e depois das revelações de sexta-feira do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre depósitos suspeitos na conta de seu filho Flávio, o presidente não deveria ir a Davos antes de deixar esclarecido de uma vez por todas o caso de seu filho e de seu assessor Fabrício de Queiroz, amigo pessoal de longa data da família Bolsonaro. Trata-se de uma situação que está se transformando não só em mais um escândalo de suposta corrupção, mas também em uma ferida que poderia acabar envenenando a credibilidade do novo Governo.
Não parece razoável imaginar que um presidente da República, com os poderes que o cargo lhe outorga neste país, e seu ministro da Justiça, um especialista mundial em assuntos de corrupção, não possuam a esta altura informações suficientes para dar uma resposta definitiva à opinião pública sobre o caso envolvendo Flávio e Queiroz.
Bolsonaro e Moro não deveriam viajar a um simpósio tão importante econômica e politicamente como o de Davos antes de dissipar completamente essa sombra de suspeita que está acabando com a lua de mel da nova era bolsonarista. Quando quer, o novo presidente é contundente em seus atos. Que sua mão não trema na hora de tomar uma decisão sobre sua própria carne. Só assim sua credibilidade seria restaurada sem fornecer munição para a oposição, à qual ele está dando o melhor dos presentes.