24/01/2019
Oposição venezuelana se fortalece nas ruas e aumenta pressão internacional
Apoio dos EUA, do Brasil e de outros países da região a Guaidó reforça a posição do jovem líder opositor, enquanto setores moderados da oposição questionam seu anúncio.
A oposição venezuelana voltou a sair com força à rua após os protestos que sacudiram o país em 2017, um movimento que lhe permite ganhar terreno diante de Nicolás Maduro, mesmo sem conseguir a saída deste do poder. Outro triunfo do dia, ao menos em relação ao exterior, é o que conseguiu o líder opositor Juan Guaidó, desconhecido fora de Venezuela até semanas atrás, e que conseguiu a solidariedade de boa parte da comunidade internacional.

O juramento feito por Guaidó ao se declarar presidente “encarregado” (interino) de Venezuela foi ovacionado fervorosamente pela multidão que o escutava. O apoio da rua se encaixa perfeitamente para o jovem opositor. A noite prévia à manifestação da oposição, de acordo com o Observatório Venezuelano de Conflitividade Social, teve 65 protestos violentos em Caracas contra Maduro, quase todas em áreas populares do oeste da cidade que alguma vez foram chavistas.

No entanto, seu anúncio tomou alguns deputados e políticos de oposição de surpresa e não foi compartilhado de maneira unânime. Setores moderados da oposição insistiram para que Guaidó, militante de Vontade Popular, o partido de Leopoldo López, tenha cabeça fria e assuma progressivamente a estratégia opositora, tentando uma negociação política. Também deixou descontentes setores mais intransigentes, que há dias o recriminavam para que não assumisse a presidência antes.

As eternas lutas internas da oposição parecem ter ficado, não obstante, eclipsadas pelo respaldo internacional obtido por Guaidó, sobretudo no continente americano. Com exceção do México, as principais potências, incluindo o Brasil, fecharam filas com o presidente da Assembleia Nacional e, com Estados Unidos na liderança desse apoio, endureceram o tom contra o regime chavista, que deixou colar ameaças expressas a Caracas. No caso da Europa, Guaidó não conseguiu um apoio explícito da União Europeia como bloco, mas sim de vários líderes conservadores. A UE insiste na necessidade de uma saída dialogada, uma opção da qual a Espanha é partidária.

Guaidó pôde remontar duas semanas de vertigem, que incluíram uma tentativa frustrada de captura por parte da polícia política chavista e ameaças abertas de prisão que não se concretizaram. Durante a tarde da terça-feira, terminada a concentração, houve rumores de que ele havia se exilado na Embaixada da Colômbia, o que foi desmentido pouco depois.

Enquanto Maduro vê as críticas contra ele se intensificarem, o líder venezuelano, como resposta, decidiu romper relações diplomáticas com os Estados Unidos. Na Casa Branca, no entanto, só reconhecem Guaidó como chefe do Executivo venezuelano, e colocam o Palácio de Miraflores diante da delicada tarefa de suportar no país a presença indesejada e de um hostil operador político de caráter inevitável.

Outra das incertezas que se abrem a partir de agora é a do papel do Exército e sua lealdade a Maduro. Enquanto a cúpula fechou filas com o líder venezuelano, em alguns locais, como Caicara do Orinoco (Bolívar) ou em Mérida, membros da Guarda Nacional se negaram a enfrentar e reprimir os manifestantes, que em todo momento os encaravam fazendo reflexões em torno da gravidade da situação social do país.

Guaidó enviou reiteradas mensagens às Forças Armadas, para que assumissem seu papel nesta crise constitucional, e gravou um vídeo, que terminou sendo viral nas redes, onde dirige uma mensagem respeitosa e empática  “à família militar” para que assuma sua responsabilidade de restaurar a democracia por estar rompida a corrente de comando.

Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, emitiu um comunicado em sua conta de Twitter no qual se distancia da nomeação de Guaidó e emite uma neutra reflexão a favor da Constituição. Presume-se que este é o ânimo que impera no Alto Comando Militar. O Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana também se dobrou “à ordem constitucional e ao presidente Maduro” em um pronunciamento nas redes sociais.

O Governo bolivariano, no entanto, viu-se particularmente desguarnecido nesta quarta-feira: com Maduro ausente quase todo o dia, sem se atrever a tomar decisões após o atrevimiento de Guaidó, em um ambiente de levante e desobediente, organizou uma manifestação muito pobre para tentar dar resposta à avalanche opositora. Diosdado Cabelo, homem forte do chavismo, declarou: “Aquele que quer ser presidente terá de vir nos buscar em Miraflores”. "Peço-lhes, em nome do comandante Chávez, que se algum de nós chegar a cair, continuem adiante com suas bandeiras de luta", agregou.






 

Fonte: Alonso Moleiro - Caracas
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