A Energisa comprou a Ceron por R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), isso mesmo o preço de um carro usado, sem quaisquer dívidas, já que essas foram assumidas pela Eletrobras antes da privatização; tendo como contrapartida apenas o compromisso de investir R$ 253.844.157,06 ao longo de cinco anos ou uma média de R$ 50.768.831,41 por ano.
Como então, investindo com recursos próprios uma média de R$ 50,7 milhões por ano, a Energisa vai fazer a mágica de investir os R$ 470 milhões em 2019, conforme nota divulgada na imprensa, quase dez vezes mais? Muito simples, usando o dinheiro alheio! Exatamente isso. Não bastasse aumentar em mais de 25% a conta de energia dos rondonienses, ela vai receber aproximadamente R$ 428 milhões de um fundo da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), recursos já previstos pra Ceron antes da privatização. Ou seja, com ou sem Energisa tais recursos seriam investidos para interligar regiões isoladas do sistema.
Isso é o que o meu saudoso avô dizia que de se “fazer cortesia com o chapéu alheio”. Trocando em miúdos, o final da nota que a Energisa divulgou com pompas e circunstâncias, de que vai “investir R$ 470 milhões em melhorias da rede de distribuição, reiterando o seu compromisso com a população de Rondônia de oferecer energia segura e de qualidade, contribuindo para o conforto dos seus clientes e com o desenvolvimento econômico da região”, não passa de um engodo, uma falácia, uma artimanha.
Para ficar mais claro: dos propalados R$ 470 milhões de investimentos, ao se descontar os R$ 428 milhões que o fundo da ANEEL já tinha previsto repassar muito antes da privatização, restam apenas R$ 42 milhões de recurso próprios da Energisa, abaixo até mesmo da média de R$ 50.768.831,41 por ano, que ela assumiu o compromisso de investir quando ‘comprou’ a Ceron pela bagatela de R$ 50 mil reais. Se existe um “negócio da China”, esse da Energisa certamente é um dos melhores do mundo.
E isso tudo depois de estar literalmente extorquindo os rondonienses com um absurdo aumento de mais de 25% na conta de energia de cada rondoniense. É uma completa desfaçatez que as autoridades da República, dos Três Poderes, permitam um ‘assalto’ desse porte aos bolsos da sofrida população de Rondônia. É um crime contra a economia popular, é um verdadeiro acinte, uma desavergonhada apropriação do dinheiro do povo de Rondônia. Não há outras palavras para se definir essa situação.
Como justificar ou explicar tal aumento, se a inflação dos últimos 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi de apenas 3,57%, se Energisa não assumiu nenhuma das dívidas da antiga Ceron e se a maior parte dos investimentos será feita pela ANEEL? Esta é uma situação que mereceria uma “desobediência civil”, com a população se recusando a pagar as contas com este aumento absurdo e se mobilizando para impedir cortes por falta de pagamento. Ou somos realmente um bando de bobos, como a Energisa acredita que somos? É claro que isto é apenas um desabafo indignado, mas seria melhor que as autoridades e a própria Energisa tomassem juízo e cancelassem esse aumento esdrúxulo, covarde e inaceitável.
*Itamar Ferreira é bancário, dirigente sindical, formado em administração de empresas, pós-graduado em metodologia do ensino, advogado e pós-graduando em direito e processo do trabalho.