Escolas de Samba fazem homenagens e críticas sociais em Manaus
Entre as cores do arco-íris, críticas sociais, homenagens a personalidades e alegorias de diamantes e amuletos, as escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval de Manaus se apresentaram neste fim de semana no Sambódromo, na Zona Centro-Sul da capital.
Entre as cores do arco-íris, críticas sociais, homenagens a personalidades e alegorias de diamantes e amuletos, as escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval de Manaus se apresentaram neste fim de semana no Sambódromo, na Zona Centro-Sul da capital. Por conta da chuva, o desfile começou com atraso, por volta das 21h de sábado (2), e terminou às 7h de domingo (3).
Primos da Ilha
Mesmo debaixo de chuva, a escola de samba Primos da Ilha, do bairro São Francisco, abriu a última noite de desfile levando à avenida do samba um apelo contra diversas formas de preconceito, com o enredo “Não queremos aceitação, queremos respeito, se quer falar de cura? Cure seu preconceito”, e buscando sua permanência no Grupo Especial. “Se é pra ser debaixo de chuva, que seja! Essa é pra lavar o preconceito”, convocou o carnavalesco da agremiação, Werly Medeiros, no aquecimento da bateria, antes de os brincantes entrarem na avenida.
Com mais de 2 mil componentes na passarela entoando versos como “Qual será a cura da estupidez? Meu samba é a luz da consciência”, a escola fez uma viagem rumo ao “tesouro no fim do arco-íris”: um mundo de autoconhecimento, sem preconceito e sem violência.
O enredo deu ênfase ao movimento LGBTQ+ e criticou a chamada “cura gay”, apresentada na comissão de frente por meio de médicos e drag queens. Além disso, a Primos da Ilha também representou em suas alas figuras marcantes para as lutas de minorias, como a vereadora Marielle Franco, em alusão à violência contra a mulher e o povo negro, e a travesti Dandara.
Andanças de Ciganos
Segunda agremiação mais antiga do Amazonas, com 43 anos de fundação, e a segunda a desfilar, a Andanças de Ciganos, apresentou o enredo “O sonho de ser um milionário” para se perguntar, afinal, se o dinheiro é a riqueza mais importante.
Com uma explosão de dourado nas fantasias e alegorias, e aliando a folia à crítica política, os setores da agremiação fizeram um percurso histórico partindo de momentos como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial até a escravidão no Brasil e, nos tempos contemporâneos, a revogação de direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as condições de quem ainda vive como trabalhador análogo à escravidão. A Andanças de Ciganos terminou sua apresentação em cima do tempo, mas ainda dentro do limite de 70 minutos.
Vitória Régia
Na apresentação da Vitória Régia, o clima foi de homenagem: a escola celebrou os 70 anos do jornal amazonense A Crítica e a vida do seu criador, o jornalista Umberto Calderaro Filho. “Bomba, bomba no jornal, explodiram a redação”, cantava o samba-enredo da escola, lembrando momentos importantes da história do jornal, como uma tentativa de atentado no Dia de São Sebastião. Essa foi a segunda vez que a verde-e-rosa homenageou o jornal: a primeira foi em 1995, com o tema “Hoje quem bota a banca sou eu”.
A partir da personificação da vitória-régia, a índia Naiá, como narradora da história, a trajetória do jornal foi contada em 22 alas, com quatro carros alegóricos, desde o nascimento do periódico até a consolidação da Rede Calderaro de Comunicação com as novas tecnologias de comunicação, como o portal e a transmissão do Carnaval e do Festival Folclórico de Parintins. “[É a história de] uma empresa que não pertence à família Calderaro, e sim ao povo do Amazonas”, afirmou o vice-presidente da rede, Dissica Calderaro, entre os homenageados.
Vila da Barra
A quarta apresentação da noite ficou por conta da escola de samba Vila da Barra, do bairro da Compensa, zona Oeste de Manaus. Com três carros alegóricos, 20 alas e aproximadamente 2 mil participantes, a agremiação lançou a “sorte” na avenida: amuletos, bolas de cristal e jogos de azar deram o tom do enredo “Azul e amarelo são as cores do meu amuleto, emociona Vila porque hoje a sorte está ao seu lado”.
Pelo terceiro ano, a agremiação convidou como carnavalesco Tiago Fartto, que trabalhou com Paulo Barros, um dos principais carnavalescos do Rio de Janeiro, e, com a experiência, prometeu levar inovações para a Avenida do Samba de Manaus. Entre as fantasias e alegorias, as cores da escola, azul e amarelo, tomaram a forma de roletas, trevos de quatro folhas, bolas de cristal e dados, entre diversos talismãs. Em clima de animação, a bateria ditou o ritmo final do desfile, reunindo a harmonia dançando em frente aos componentes.
Reino Unido
Após 30 anos do primeiro título na categoria especial, a Reino Unido da Liberdade levou para a avenida do samba o tema “Tambores, crenças e costumes afro-brasileiros. A bênção mãe Zulmira”. O enredo comemora a primeira conquista da escola e homenageia a cultura negra. Neste ano, a escola busca o tetracampeonato.
De acordo com o presidente da agremiação, Reginey Rodrigues, é apostando na cultura afro-brasileira e realizando uma homenagem à Mãe Zulmira que eles pretendem levar mais um título para a comunidade.
Durante o desfile, foram apresentadas alas com conceitos ligados ao sofrimento dos negros, enquanto escravos no Brasil, a abolição da escravatura e a ascensão de figuras negras no país, com o legado deixado pelos negros até os dias atuais.
A comissão de frente da escola retratou o sofrimento dos africanos que chegaram ao Brasil em navios negreiros, acorrentados, para serem escravos. Com 4.500 componentes, a Reino Unido é a escola que tem o maior número de foliões no desfile do Grupo Especial. Os brincantes estão distribuídos em 26 alas. A agremiação trouxe seis carros alegóricos. Familiares de Mãe Zulmira participam do desfile.
Unidos da Alvorada
Eram 3h quando a buzina soou na concentração da avenida do samba marcando a entrada da Unidos do Alvorada. Em busca do seu primeiro título de campeã do Carnaval de Manaus, a escola trouxe o tema“All-in – Copag pra ver. Na passarela do Samba, a Alvorada "dá as cartas” - que faz uma viagem pela história de um dos jogos mais tradicionais do mundo.
Com 22 alas, 3 mil componentes e quatro alegorias, as cores Azul e Branco tomaram conta do Sambódromo. Segundo o presidente Jacaré, a união entre os moradores do bairro fazem a grande diferença no momento do desfile. Ele agradeceu a Deus e desejou um bom desfile as agremiações concorrentes.
O carro de destaque tinha 10 metros de comprimento, 20 de largura e 10 de altura, com elementos que remetem a Copag, empresa pioneira na fabricação de baralho no Brasil. Um dos membros da escola que ajudam a fazer a diferença na avenida é o pedreiro Gilson Pereira, de 27 anos.
A Grande Família
Celebrando 34 anos no Carnaval de Manaus, A Grande Família entrou na avenida do samba gritando "Eu Quero É Ser Feliz”. O tema foi em homenagem ao empresário Murilo Rayol, figura marcante no Carnaval do Rio de Janeiro e que há mais de 30 anos divulga a cultura amazonense para o Brasil e o Mundo.
Conhecida na cena pelo pelos luxuosos desfiles que leva à avenida, esse ano o grêmio traz motivos de sobra para exagerar no brilho. A convite de Rayol, o sambista amazonense Chico da Silva foi destaque em um dos carros alegóricos.
Murilo Rayol disse que está lisonjeado com a homenagem da Grande Família. "É um prestígio muito grande ser homenageando ainda vida. Ainda mais por escola de samba amazonense. A Grande Família vem linda e vai inovar no Carnaval de Manaus. Ela está bem redonda e cheia detalhes, basta fazer tudo certo para ser campeã", falou Rayou. Ele acrescentou que a escola vai fazer muitas surpresas durante o desfile.
Aparecida
Com os primeiros raios de sol deste domingo (3) e para fechar o Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial, a Mocidade Independente de Aparecida fez uma homenagem ao estado do Pará, uma reverência aos vizinhos - que fizeram muito pelo Amazonas e ainda ajudam a construir a história do povo forte do Norte.
Com o enredo “Égua, maninho! Espia só! Tem açaí, tem tucupi, tem maniçoba. Tem carimbo, Çairé e Siriá. Tem boto e tem Iara, de Marajó, encantaria de arrepiar... Tem Ver-o-Peso, e rio-mar. Tem Nazinha a nos abençoar... A Aparecida vem mostrar que aqui também tem Pará!”.
A agremiação levou 3.200 componentes em 24 alas. A escola mergulhou nas lendas amazônicas, e abordou a religiosidade do Círio de Nazaré. As alegoria levaram elementos da cultura paraense, como o carimbó, o açaí, a castanha do Pará e tacacá.
Um dos pontos altos é a representação de Nossa Senhora Aparecida, que sobrevoo a avenida do Samba com a ajuda de um drone. O rito representou o Círio de Nazaré e emocionou quem ficou até o fim da apresentação.
A comissão de frente, composta por 26 componentes, sendo 13 homens e 13 mulheres, representam a encantaria e vem acompanhada de um módulo alegórico.