Pesquisadores encontram proteína extraída do veneno de cobras que pode combater a Leishmaniose
A enzima pode ser a cura para a leishmaniose. De acordo com os pesquisadores, a partir desses estudos de compostos oriundos da biodiversidade da região amazônica, possam surgir novas drogas.
A pesquisa está sendo realizada por um aluno de doutorado da Universidade Federal de Rondônia (Unir) que faz parte do projeto Pró-Rondônia financiado pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero).
A coordenadora do projeto é a doutora em imunologia, formada pela Universidade de São Paulo (USP), Juliana Zuliani, que também é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professora na Unir. A área de atuação está ligada à bioquímica e bioinformática. A doutora comenta que a descoberta de dois compostos extraídos do veneno de serpentes da espécie jararacuçu, muito embora seja uma cobra encontrada no sul do país, e os pesquisadores vem trabalhando com o veneno de duas jararacas, nativas da região Amazônica, em que o veneno é similar ao da Jararacuçu. A enzima pode ser a cura para a leishmaniose. “Estamos estudando um composto de proteínas no interior da célula que culmina a liberação de um mediador, que é o causador da inflamação. A descoberta dessa enzima pode quebrar o processo de inflamação da leishmaniose”, explicou, informando que há pesquisas sendo desenvolvidas para o combate da malária utilizando também um composto do veneno de cobras.
Esses são apenas um dos avanços da equipe de pesquisadores que fazem parte do Pró- Rondônia, iniciado há quase três anos. Seis estudantes participam do projeto com bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado, com alunos de graduação, pós graduação e doutores. Para o Pró-Rondônia, foram investidos R$ 125 mil.
Os estudantes são orientados por doutores que também são professores da Unir e pesquisadores da Fiocruz; Leonardo de Azevedo Calderon com experiência nas áreas de bioquímica e biofísica e Andreimar Martins Soares, que atua nas áreas de saúde pública e biotecnologia.
O foco principal do projeto são pesquisas sobre a bioprospecção da biodiversidade amazônica. De acordo com os pesquisadores, a partir desses estudos de compostos oriundos da biodiversidade da região amazônica, possam surgir novas drogas. Para que isso aconteça, através do Pró-Rondônia foi criada a Rede de Biotecnologia de Toxinas e Inibidores (Redebiotex), que integra pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e de outros país como a Argentina, Equador, Panamá e Paraguai. “Contamos com pesquisadores de várias áreas diferentes, como a bioquímica, biofísica, imunologia , bioinformática, microbiologia. Praticamente todas a vertentes para poder ter um estudo integrado para chegar a um produto final”, destacou a coordenadora do programa, Juliana Zuliani.
Entusiasmado com o resulto de muitas pesquisas desenvolvidas pelo projeto, o pesquisador Leonardo de Azevedo Calderon destaca a importância do incentivo à pesquisa e a contribuição dela para os mais variados setores. “É preciso desmistificar a história que a pesquisa não serve para nada e que é dinheiro jogado fora, porque a pesquisa é a base para um novo conhecimento. Por mais simples que seja é importante. Senão fossem os estudos básicos da doutora Juliana, não conseguiríamos descobrir a proteína que pode combater a leishmaniose, a malária e outras doenças, uma vez que Rondônia é uma área endêmica. A pesquisa é fundamental e as informações se interligam”, desabafou.
“A falta de incentivo prejudica todo o desenvolvimento das pesquisas, que precisam parar por falta de recursos. A pesquisa não é barata. Todos os insumos são importados, não há insumos nacionais, porém é muito mais caro uma pessoa no leito de hospital público, ou comprar medicamentos com compostos do Brasil patenteados por outros países, como é o caso do captopril, produzido através de uma proteína do veneno de cobra nativa da região”, declarou Zuliani.
O governo do Estado, por meio da Fapero, busca alternativas para manter as pesquisas em andamento e para abrir novas frentes de estudos. Atualmente Rondônia conta com mais de 700 doutores, sendo que a maioria passou pela orientação da pesquisadora e coordenadora do Pró-Rondônia, Juliana. ”Nós qualificamos e especializamos mão de obra para o Estado nas mais diferentes áreas de atuação, sejam elas na agricultura, pecuária, administração, engenharia entre outros setores” ressaltou.
Pesquisadores tipo exportação
Com a falta de incentivo e sem área para atuar, depois de formado, muitos pesquisadores brasileiros encontram emprego em outros países, onde são reconhecidos. “São quase 12 anos para formar um pesquisador, em que o governo investe e o qualifica, mas sem incentivo perdemos nossos doutores para o mercado internacional que os absorve. A atual administração está empenhada em investir nos programa de pesquisas em diversas áreas e absorver essa mão de obra”, salientou o presidente da Fapero, Leandro Dill, doutor e pesquisador da Fiocruz e orientador no Pró-Rondônia.
Leandro Dill foi convidado pela equipe da General Eletric dos Estados Unidos para trabalhar no setor de desenvolvimento, mas preferiu continuar em Rondônia.