A história do jovem Cinta Larga, medalhista nos jogos de xadrez na fase regional de Pimenta Bueno
Hoje Carlos Cinta Larga estuda na escola Santos Dumont, numa extensão do Ensino médio do campo da Escola Clodoaldo Nunes de Almeida, em Cacoal. Mora em um sítio distante cerca de 8 km da cidade onde mora com a mãe e vivem da agricultura familiar.
A vida real de um estudante esforçado e dedicado que vence batalhas no tabuleiro e fora dele. O jovem indígena, Carlos Cinta Larga, é medalhista na fase regional que aconteceu em Pimenta Bueno e demonstrou superioridade num jogo que exige um planejamento de longo prazo, que cria uma ou mais das seguintes vantagens numa partida: Superioridade em material; superioridade na mobilidade das peças; superioridade na estrutura de peões.
Nem toda batalha se trava no campo, com enfrentamento direto. Muitas delas acontecem dentro de si. Na mente, na labuta diária pelo sustento, numa crise amorosa ou frente a frente com um adversário em um tabuleiro de xadrez.
E se é de batalhas que se vive a vida, para o jovem indígena, Carlos Cinta Larga, não foi diferente. Nascido em Cacoal, em 2003, sempre viveu entre a aldeia e sua residência na zona urbana de Cacoal. Foi aluno da escola Escola Estadual de Fundamental Carlos Gomes desde a alfabetização e logo que ingressou na escola demonstrou interesse pela prática do xadrez.
PROFESSOR: “O ORIENTADOR”
Aprendeu os primeiros movimentos no tabuleiro quadriculado com o professor Rogerio Kester, que na época desenvolvia na escola o aprendizado do esporte de mesa. E desde pequeno, as peças diferentes e o tabuleiro encantaram o pequeno Cinta Larga.
Percebendo no pequeno aluno o interesse pelo xadrez e a alta habilidade desenvolvida devido ao seu interesse pela área de exatas, o professor Rogerio percebeu que ali estava um jogador diferenciado.
Sempre além dos colegas de sua turma quando se referia à prática do jogo, demonstrou alta capacidade de análise e cálculo, “habilidades extremamente importantes para prática do Xadrez, e assim desenvolvia sua capacidade de raciocínio lógico, o que também o auxiliava na disciplina de matemática” exalta o professor.
O tempo passou e as batalhas começaram a ficar mais sérias, participando das competições dentro da escola e quando tinha oportunidade de participar em torneios externos também era o orgulho da escola, da família e principalmente de seu professor e agora, treinador.
A PERDA DO PAI
No entanto no ano de 2014, uma batalha o jovem Carlos não conseguiu vencer. Ele perdeu o seu “Rei”, o pai Carlos Cinta Larga, que sempre o acompanhava e iam juntos para a aldeia nos finais de semana e horas vagas.
A perda do pai mexeu com a estrutura do jovem enxadrista que se formava e às vésperas de completar 12 nos e poder finalmente ingressar nos Jogos Escolares da Juventude, algo que tanto almejava.
Mas o esporte ensina que os fortes sempre se superam. E foi assim, com força e determinação que o jovem demonstrou que através do xadrez se pode superar o momento de crise e perda. E foi jogando e ocupando seus pensamentos com os lances do tabuleiro que o jovem amenizou seu sofrimento, e no primeiro ano de participação nos Jogos Escolares de Rondônia (Joer), em 2015, sagrou-se campeão estadual infantil e foi representar o estado nos Jogos Escolares da Juventude (JEJ) em Fortaleza (CE).
A FUGA
Novos problemas familiares o impediram de participar do Joer em 2016. Nosso jovem chegou a fugir de casa e teve seu desempenho escolar afetado preocupando seu treinador que não desistiu de seu pupilo, pois percebia o potencial latente.
Retornando ao convívio com sua mãe, em 2017, ele retomou estudos e principalmente à prática do xadrez e voltou em grande estilo sagrando-se bi-campeão estadual do Joer.
E o jovem continua firme e confiante em seus propósitos tendo este ano a oportunidade de brilhar novamente nos tabuleiros e principalmente como cidadão crítico e conhecedor de seus direitos e deveres.
GUERREIRO
Em 2019, já venceu a etapa municipal, venceu o torneio Blitz e Pensado de sua categoria. Com isso, já está qualificado para participar da grande final em Ji-Paraná no mês de outubro.
Hoje Carlos Cinta Larga estuda na escola Santos Dumont, numa extensão do Ensino médio do campo da Escola Clodoaldo Nunes de Almeida, em Cacoal. Mora em um sítio distante cerca de 8 km da cidade onde mora com a mãe e vivem da agricultura familiar, plantando hortaliças para vender nas feiras e mercados da cidade.
O estudante atleta é um guerreiro na batalha da vida e nos tabuleiros, encontrou na escola um professor amigo e na família o amparo necessário. No decorrer dos poucos anos de vida vem desenvolvendo uma série de habilidades para se relacionar com o mundo, vem formando o jeito de ser, e na escola encontrou o apoio para o desenvolvimento intelectual e social, fatores necessários para concretizar um projeto de vida.