Estudantes da Unir denunciam falta de ônibus após aulas serem estendidas até 23h em Porto Velho
Em julho, o Conselho Superior Acadêmico (Consea) da universidade publicou a resolução que mudou a hora aula de 50 minutos para os 60 minutos. Com isso, agora os períodos começam mais cedo e terminam mais tarde.
Um acadêmico da Universidade Federal de Rondônia (Unir) precisou dormir no campus da instituição em Porto Velho após perder o ônibus e não conseguir retornar para casa. Essa foi a primeira semana de aulas de vigência de uma resolução que estendeu até 23h as aulas do período noturno.
Em julho, o Conselho Superior Acadêmico (Consea) da universidade publicou a resolução que mudou a hora aula de 50 minutos para os 60 minutos. Com isso, agora os períodos começam mais cedo e terminam mais tarde.
Morador da Zona Leste da capital, Gabriel Lima está no último ano do curso de Direito, um dos mais concorridos da universidade. Ele mora próximo ao ponto final da linha Esperança da Comunidade e usa diariamente o transporte público para ir à Unir.
O jovem contou que quando soube da mudança no horário das aulas, se preocupou com o risco de não conseguir voltar para casa. O ônibus Esperança da Comunidade passa pela última vez no centro por volta de 23h10, poucos minutos após o término das aulas na universidade, que fica distante 10 quilômetros do Centro da capital. O trajeto de ônibus entre o campus e a Praça Marechal Rondon (mais conhecida como Praça do Baú), leva pelo menos 20 minutos.
“Eu sabia que para chegar em casa no último balão do meu ônibus eu tinha que sair da Unir no ônibus das 22h30. No primeiro dia de aula, sabendo que isso ia acontecer, saí 22h20 da aula e fui para a primeira parada, mas o ônibus de 22h30 passou mais cedo”, conta.
Ele e um grupo de alunos pensaram que o coletivo ia até a Vila Princesa – cerca de 1,5 mil metros a frente da universidade, na BR-364 – e foram para o ouro lado da rodovia, mas o ônibus já havia passado.
Nas redes sociais, estudantes comentaram que o ônibus das 22h quebrou e, por isso, o de 22h30 passou mais cedo e retornou para a cidade antes da vila, deixando o grupo de alunos na mão.
O universitário contou que estava sem dinheiro e cartão e não tinha como chamar transporte por aplicativo. Se pegasse o ônibus até o Centro, não teria como seguir para a casa dele, no Bairro Socialista.
“Não adianta nada eu pegar o ônibus das 23h e ficar no centro a mercê, eu sabia que não ia ter condições [de chegar em casa]”, pontua.
Ele percebeu que ia precisar dormir na universidade e, com medo de ser encontrado e expulso pela segurança, se abrigou em uma sala.
“Eu preferi ficar no chão, minha sorte que eu estava de moletom. Estava muito frio e tinha mosquitos demais. Eu não estava preparado, não tinha levado comida nem nada. Consegui cochilar um pouco porque o chão é muito duro”, relembra.
No dia seguinte, pela manhã, o acadêmico foi até uma parada no campus parar tomar o primeiro ônibus do dia e conseguir voltar para casa.
Nessa parada, ele tirou uma foto. A postagem repercutiu nas redes sociais e foi compartilhada por vários alunos que também estão com problemas na hora de voltar pra casa.
Entre as alternativas encontradas pelos alunos está pedir carona para colegas, fazer “vaquinha” para chamar carro de aplicativo ou deixar as aulas antes do fim, perdendo conteúdo das disciplinas.
Estudantes ouvidos pela reportagem relatam que os professores foram orientados a cumprir rigorosamente o novo horário e estão sendo fiscalizados. Os acadêmicos tambêm temem pela segurança, já que o ônibus que passa no campus já foi assaltado e a chegada em casa próximo da meia-noite se torna mais perigosa, segundo eles.
Breno e Gabriel contaram que os alunos estão buscando resolver isso por via administrativa, mas caso não haja sucesso, vão buscar na Justiça uma solução para o problema.
“Quem enxerga isso é quem passa no dia a dia”, desabafa um dos estudantes.
A reportagem entrou em contato com a Unir questionando os motivos do horário de aulas ter sido estendido e se a instituição vai alterar as normas devido a reclamação dos estudantes, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.