Idosa proibida pelo marido de estudar faz o Enem pela 1ª vez em RO: 'Sonho é ser contadora'
Anos atrás, o então marido deixou o lar e Maria Rosalina reacendeu o desejo de frequentar o ensino superior. Chegou a fazer o Enem em 2010, mas perdeu o prazo de inscrição.
Presa por anos à rotina de cuidar de casa, marido e filhos, dona Maria Rosalina Freitas, de 60 anos, teve que guardar por muito tempo a vontade de fazer faculdade. O ex-marido dela não permitia que estudasse. Porém, o tempo não impediu que ela continuasse sonhando.
Em maio deste ano, a moradora da Zona Sul de Porto Velho pediu pra uma colega fazer sua inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde então, Maria Rosalina aproveita os livros didáticos da neta, que está no primeiro ano do ensino médio, para revisar os conteúdos vistos há quase 40 anos, quando ela terminou o antigo segundo grau.
"Tem 37 anos que eu terminei meu ensino médio e sempre tive vontade de fazer faculdade. Tive os filhos. O marido não apoiava e nunca me deixou trabalhar fora. Eu vivia cuidando de filho, sobrinho, enteado", lembra.
Anos atrás, o então marido deixou o lar e Maria Rosalina reacendeu o desejo de frequentar o ensino superior. Chegou a fazer o Enem em 2010, mas perdeu o prazo de inscrição. Agora, aposentada e com os filhos criados, a candidata acredita que vai conseguir ser uma contadora.
"Quero fazer ciências contábeis. Eu fiz o técnico na época do segundo grau. Terminei o médio em 1982 aí já tive filho e ficava só em casa cuidando de menino", explica.
Na primeira etapa do Enem, que ocorreu no último domingo (3), Maria Rosalina lembra que a maior dificuldade foram as dores na coluna por passar muito tempo sentada. "Como eu tenho problema na coluna, fico muito tempo sentada aí dói tudo e eu esqueci meu casaco e estava aquele frio todo na sala".
Na redação, ela contou com uma coincidência que foi determinante na produção do texto. "Eu estava lendo na semana anterior os livros da minha neta e falava sobre cinema, aí cheguei na prova e o tema era a democratização do acesso ao cinema".
Devido a consultas médicas, a aposentada não conseguiu revisar conteúdos nesta semana para a segunda etapa da prova neste domingo (10), mas revela que achou melhor para não ficar ansiosa. "Eu gosto muito de matemática. Mas física eu estudei há muitos anos então nem quero pensar muito nessa segunda prova pra não ficar nervosa".
Hoje com o apoio da mãe, de 83 anos, dos filhos e amigos, Maria Rosalina espera em breve estar sentada nos bancos da Universidade. "Espero que eu passe. Meu sonho é ser uma contadora pra ajudar as pessoas", finaliza.