"Pra não dizer que não falei das flores". Geraldo Vandré.
São tempos muito difíceis, em que filhos não podem visitar as mães, netos estão proibidos de abraçar seus avós, amigos de se confraternizarem, futebol na quarta e domingo? Nem pensar. Coisas tão simples e “insignificantes” como caminhar nos espaços de lazer ou ir aos shoppings parecem coisas de filme; aliás, causam certa estranheza quando agora às vemos nos filmes, parecem ficção, coisas que não pertencem ao cotidiano real.
Tempos que mostram com indizível crueza a nossa fragilidade humana, que é exposta com inaudita clareza por minúsculo e invisível ser, que se transformou num monstro milhões de vezes mais terrível do que qualquer entidade de filme de terror já imaginada pelo célebre cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão,
As perdas são imensas em vidas e em riquezas, mas há outras perdas que nos impactam neste momento, que nos tocam direta e cotidianamente, são pequenas e até pouco não dávamos maior importância a elas, eis que quase tão natural e abundante quanto o ar que se respira, como direito de ir e vir, trabalhar, lazer, ir à restaurantes, se encontrar com amigos ou até mesmo de visitar os entes queridos.
Este pavoroso monstro, o minúsculo coranavírus, já colocou de joelhos todas as nações do mundo, incluindo as maiores potência bélicas, econômicas e científicas; com suas imensas frotas navais e esquadrilhas áreas, drones /misseis de alta precisão e arsenais nucleares de incalculável poder destrutivo que servem apenas para: nada!
Este simples vírus, que em Latim significa fluído venenoso, uma estrutura tão simples, se comparados às células do nosso corpo, que sequer são considerados organismos vivos propriamente dito, mudou radicalmente, talvez de forma definitiva, todo o modo de vida: do Oriente e do Ocidente, do crente e do ateu, do bilionário ou do humilde.
Estamos numa verdadeira guerra mundial - um vírus contra a humanidade inteira - com a horrenda criatura nos impondo pesadas derrotas. Vivemos sob um toque de recolher por tempo indeterminado, aguardando que nossos melhores soldados - os profissionais da ciência e da medicina - consigam desenvolver uma arma letal contra o vírus e/ou uma vacina que o torne inofensivo, como milhares de outros que já existem.
Neste dramático momento os sonhos, planos e crenças são colocados à uma dura prova: o que podemos fazer? Como será o futuro? Teremos futuro?
Parece ser uma boa hora para se repensar tudo, para ver o real valor das coisas mais simples, como caminhar livremente, um aperto de mão ou um abraço; mas também, para se buscar definir o que realmente importa ao viver e enquanto se viver. Nesta hora me vem à mente a canção de Kid Abelha "Eu sou capaz de certas coisas, que eu não quis fazer, será que alguma coisa nisso tudo faz sentido? A vida é sempre um risco".
Só sei que existirei, enquanto do existir for consciente...
Itamar Ferreira é advogado, sob toque de recolher.