Alguns setores, empresariais e de gestores públicos, têm alardeado o chamado "Protocolo Amapá" segundo o qual o uso de medicação precoce, incluindo a cloroquina, teria esvaziado completamente os leitos de UTI naquele Estado. Todavia, isso é uma versão falaciosa do que realmente aconteceu e está acontecendo no Amapá.
Segundo foi noticiado, houve um encontro no dia 3 de julho via videoconferência com Governo de Rondônia, Prefeitura de Porto Velho, Cremero e empresários, no qual teria sido decidido agir em conjunto e adotar, a partir de agora, um novo protocolo de combate ao coronavírus: “Basicamente, o que se decidiu foi adotar o protocolo do Amapá, um Estado que tem apenas 10 leitos de UTI e, hoje, nenhum deles ocupado"
1º) O QUE REALMENTE ACONTECEU NO AMAPÁ
Em 15 de maio o Governo do Amapá decretou lokcdow de 10 dias em todo Estado e em 28 /05 prorrogou por mais cinco dias. Veja abaixo trecho da matéria divulgada pelo Governo do Amapá em 28/05:
“...Impactos do lockdown
De acordo com estudos técnicos e projeções matemáticas feitas pelo comitê científico do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (Coesp), o lockdown evitou cerca de 11 mil casos de covid-19. Além disso, os relatórios apontam que a cada 1% de aumento na taxa de isolamento social, ocorre uma queda de 5,9% no número de casos confirmados. Por isso, o Amapá precisa aumentar a taxa de isolamento e isso será possível com o lockdown.
O boletim do coronavírus no Amapá do dia 28 de maio, apresenta 8,1 mil casos confirmados, 198 óbitos, a redução da taxa de positividade de 75 para 66%, além do decréscimo de 3% no número de novas amostras no Laboratório Central do Amapá (Lacen). Sem as medidas de isolamento e do lockdown, estima-se que o Amapá já teria 24 mil casos positivos da doença, 583 mortes, e manteria a média de positividade superior a 75%”.
Nesta mesma matéria de 25 de maio, o governador Waldez Góes do Amapá informou que “as equipes trabalham na construção de um plano para iniciar a flexibilização das medidas de restrição, a partir de sexta-feira, 5. Para isso, é preciso reduzir a média geral de ocupação dos centros covid para pelo menos 50%, atualmente a ocupação é de 81,6% - sendo 93,6% de leitos intensivos e 72,5% de leitos clínicos. Essa redução depende diretamente da adesão dos amapaenses ao isolamento social...”
No Boletim Informativo COVID-19: Amapá, 5 de julho de 2020 consta que o "Amapá tem 29.883 casos confirmados, 4.429 em análise laboratorial, 17.566 pessoas recuperadas e 442 óbitos. Este Boletim do Amapá informa, sobre internações, que: “O número de pessoas com covid-19 em isolamento hospitalar nas redes pública e privada é de 160 pacientes, sendo 111 casos confirmados e 49 suspeitos.
Neste mesmo boletim, informa que dos casos confirmados “92 estão no sistema público (34 em leito de UTI /58 em leito clínico) e 19 estão na rede particular (14 em leito de UTI /5 em leito clínico)”. Dados disponíveis no boletim.
No Amapá a pandemia do coronavírus tem um grau de controle muito maior do que em Rondônia, mas para isso houve medidas duras de isolamento social, incluindo 15 dias de lockdown no Estado todo, inclusive com rodízio de veículos. A fiscalização e adesão da população às medidas de prevenção foi grande.
Por outro lado, a reabertura foi gradual no Amapá exigindo que “é preciso reduzir a média geral de ocupação dos centros covid para pelo menos 50%”. Ou seja, para começar a copiar o “Protocolo do Amapá” Rondônia teria, pelo menos, que reduzir a elástica taxa de ocupação dos leitos de UTI de 80 a 89,99% para 50%.
* Itamar Ferreira é advogado e responsável pela Coluna Reticências Políticas.