Entrou para os anais do marketing político a genial estratégia de reposicionamento junto ao eleitorado feito em 2002 por um determinado candidato à presidente da República, o “barbudo”, que tinha uma longa história de defesa intransigente dos ideais de esquerda e dos movimentos sociais/sindicais.
Segundo narra o marqueteiro Antonio Lavareda, no livro "Emoções ocultas e estratégias eleitorais", em junho de 2002 a campanha do "barbudo" sofria grande rejeição em parte significativa dos eleitores e recebia pesadas críticas da imprensa: a economia se deteriorava diante da perspectiva de sua vitória, subia o valor do dólar, a bolsa caía e disparava o Risco-Brasil.
Houve então uma vigorosa e eficiente estratégia de reposicionamento do partido e de seu candidato, que veio a público e assumiu com muita clareza compromissos com os fundamentos da politica macroeconômica, concordou com as negociações em andamento com o FMI, declarou que seu futuro governo manteria as metas de inflação e garantiu o cumprimento dos contratos.
Esta nova postura soou como música aos ouvidos da grande imprensa, dos agentes econômicos e da até então reticente classe média. Da noite para o dia o noticiário mudou e as pesquisas imediatamente detectaram um rápido avanço do então candidato sobre o eleitorado que tinha resistência a ele.
Guardadas as devidas e necessárias proporções, a disputa eleitoral da Capital apresenta quadro análogo: de um lado um gestor que não deixaria saudades, sendo que no primeiro turno nada menos do que 65,99% dos eleitores votaram em outros candidatos; de outro, uma candidata que poderia representar uma desejada renovação, porém causa enorme receio em uma parte significativa do eleitorado.
Exercendo o cargo de vereadora, um mandato proporcional, a agora candidata à prefeita pode durante quatro anos adotar um discurso de extrema-direita, baseado no fundamentalismo religioso e na visão de que o Estado deve se transformar num “puxadinho” da igreja. Tal postura assusta um contingente enorme do eleitorado, que tende achar o atual prefeito “um mal menor”.
Neste cenário, o projeto de reeleição avança célere e sem muitos obstáculos, ajudado pela “pregação” da candidata de oposição aos já “convertidos”, que nela votaram no primeiro turno. Todavia, por representar uma renovação e o fato de que poderia ser a primeira mulher prefeita da Capital, ela teria grande potencial de crescimento.
Para isto, seria necessário abandonar a postura da “Cristiane fundamentalista religiosa” e assumir compromissos claros, inequívocos e transparentes com uma gestão laica, sem discriminação a qualquer segmento social, como os homossexuais, demonstrando ao eleitorado o surgimento de uma “Cristiane paz & amor” que realmente seria a prefeita de todas e todos.
Não anularei o meu voto e ele já está definido: primeira opção seria uma ‘Cristiane paz & amor’ e, se ela não surgir, será no Hildon Chaves; neste simplesmente para barrar o fundamentalismo religioso dento da prefeitura, pois Porto Velho não merece uma nova “Crivella” como nos últimos quatro anos no Rio de Janeiro.
* Itamar Ferreira é advogado e responsável pela Coluna ‘Reticências Políticas’.