A participação das mulheres nos espaços de poder ainda é visivelmente irrisória no Brasil, muito aquém tanto da capacidade feminina de liderança quanto do percentual delas em relação ao total da população.
Na política, por exemplo, as mulheres representam 52% dos eleitores brasileiros. Além disso, há décadas os partidos são obrigados a preencherem ao menos 30% das vagas de candidaturas com mulheres e mais recentemente tem se obrigado a destinar recursos do Fundo Partidário para candidatas mulheres.
Qual o resultado das últimas eleições nos atuais mandatos:
Câmara de vereadores de Porto Velho: 2 vereadoras do total de 21 vagas ou 9,52%
Assembleia Legislativa de Rondônia: 2 deputadas de 24 vagas ou 8,33%
Câmara dos Deputados: 77 deputadas federais de 513 vagas ou 15%
Senado Federal: 12 senadoras de 71 vagas ou 14,81%.
Mas não é só na política, as mulheres são sistematicamente alijadas dos espaços de poder em todos os segmentos da sociedade: presidências, diretorias e gerências de empresas, nas igrejas, instituições de ensino, sindicatos, entidades de classe.... as mulheres via de regra são minorias ou ganham menos para exercer as mesmas atribuições.
O empoderamento das mulheres é algo que merece reflexão permanente e, principalmente, medidas concretas e efetivas que viabilizem a participação da mulher nos espaços de poder.
Inicialmente se propõe neste singelo artigo uma reflexão de cunho mais prático: as organizações, instituições e estruturas de poder em geral foram feitas por homens para eles próprios, os homens. Por isso a ascensão feminina é tão difícil.
O mundo corporativo e político, em que pese uma aparente igualdade de oportunidades, jamais esteve preparado para sopesar e criar alternativas que compensem a fisiologia diferenciada da mulher, como no caso de ciclos menstruais e, principalmente, a maternidade.
Para se pensar em ter uma carreira, quase de igual para igual, numa empresa, cargo político ou numa entidade de classe, a mulher de 25 a 35 anos, período em que homens e mulheres mais poderiam se destacar e pleitear espaços de poder, na pratica, elas precisam deixar a dimensão da maternidade em segundo plano. Como conciliar uma presidência ou diretoria amamentando um filho? Quase sempre isto seria impraticável.
Entretanto, por causa dessa terrível tragédia da pandemia do coronavírus, uma nova janela de oportunidade para o empoderamento feminino pode estar surgindo. O chamado teletrabalho (home office) se popularizou em todo tipo de atividade, de audiências judiciais à sessões legislativas e reuniões de diretorias, praticamente tudo está podendo ser decidido à distância, de forma não presencial...
... já antevejo deputadas, no conforto de suas casas, com os filhos ainda por aprender a engatinhar, em fase de amamentação participando de sessões plenárias; prefeitas ou governadoras cuidando da gestão pública em condição análoga; mulheres presidentes, em igual situação, participando de reuniões de diretoria, autorizando projetos, pagamentos, vendas, compras... sem estar fisicamente presente em gabinetes, plenários ou prédios das organizações.
Em outro aspecto, o resultado sofrível, por exemplo, no caso da política onde se buscou assegurar um quantitativo de vagas para candidatas mulheres, mostra que isto é totalmente ineficaz ou insuficiente ou ambos; pois jamais em uma câmara de vereadores, assembleia legislativa ou no Congresso Nacional as mulheres sequer chegaram perto de preencher 30% das vagas. Tal fato, por si só, mostra que seria necessário garantir não só 30% de vagas de candidaturas, mas 30% das vagas dos parlamentos para mulheres.
Enquanto não se garantir um número mínimo de vagas nos cargos políticos legislativos às mulheres, como 30% por exemplo, e não se criar ferramentas tecnológicas que viabilizem a participação efetiva e de forma mais permanente da mulher, nos momentos em que suas diferenças biológicas impeçam ou dificultam sua presença, o discurso da ampliação da participação das mulheres nos espaços de poder não passará disso: de discurso!