Trinta e oito horas após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter confirmado no domingo (30) a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República, Jair Bolsonaro, candidato derrotado do PL à reeleição, ainda não se manifestou sobre o resultado.
É uma tradição no Brasil o candidato derrotado reconhecer a derrota e desejar sorte ao eleito. Isso aconteceu em eleições passadas (leia detalhes mais abaixo).
Integrantes do governo Bolsonaro, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) já entraram em contato com integrantes da campanha de Lula para oferecer apoio no processo de transição de governo.
O resultado foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 19h57 de domingo, quando 98,81% das urnas já tinham sido apuradas. Àquela hora, Lula, tinha 50,83% dos votos válidos e não poderia mais ser alcançado por Bolsonaro, que contabilizava 49,17% de votos válidos.
Ao todo, com 100% das urnas apuradas, Lula obteve 60,3 milhões de votos, e Bolsonaro, 58,2 milhões de votos.
A agenda de Bolsonaro para esta terça-feira (1º) não prevê compromissos oficiais. Pela manhã, o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) foi visto entrando no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Aliado de Bolsonaro, o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) também foi visto chegando ao local.
Na segunda-feira, o ajudante de ordens do presidente, tenente-coronel Cid, se dirigiu ao Alvorada. O general Walter Souza Braga Netto, que concorreu como candidato a vice de Bolsonaro, também foi visto entrando no Alvorada. Depois, Bolsonaro se dirigiu ao Palácio do Planalto, voltou para o Alvorada e manteve o silêncio sobre a disputa eleitoral.
Reconhecimento da derrota
Tradicionalmente, candidatos derrotados ligam para o adversário e fazem uma declaração pública reconhecendo a vitória do oponente.
Em 2018, por exemplo, o então candidato do PT Fernando Haddad reconheceu a vitória de Bolsonaro ainda no domingo à noite.
Em 2002, quando Lula obteve a primeira vitória na disputa presidencial, o então adversário dele no segundo turno, José Serra (PSDB), telefonou para o petista e reconheceu a derrota.
Durante discurso a apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, Lula contou que até as 23h45 não havia recebido telefonema de Jair Bolsonaro.
"Vocês sabem que a gente vai ter que ter um governo para conversar com muita gente que está com raiva. Em qualquer lugar do mundo, o presidente derrotado já teria ligado para mim reconhecendo a derrota. Ele, até agora, não ligou, não sei se vai ligar e não sei se vai reconhecer", disse.
Assim que o TSE declarou a vitória de Lula sobre Bolsonaro, diversos líderes mundiais reconheceram a vitória do petista, entre os quais: Joe Biden (Estados Unidos), Rishi Sunak (Reino Unido), Alberto Fernández (Argentina), Vladimir Putin (Rússia), Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal), Olaf Scholz (Alemanha) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia).
Presidente foi dormir após resultado
Bolsonaro acompanhou parte da apuração com aliados na Granja do Torto, residência de campo da Presidência que fica a cerca de 15 quilômetros do Centro de Brasília. Depois, dirigiu-se ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência onde, desde 2019, vive com a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Jornalistas aguardavam manifestação de Bolsonaro em frente à residência oficial, mas até a última atualização desta reportagem não havia previsão de declaração do presidente.
Ao blog da Andréia Sadi, pessoas próximas de Bolsonaro afirmaram que tentaram falar com ele, mas foram informados de que o presidente foi dormir depois de saber o resultado das urnas.
Os três filhos políticos de Bolsonaro – o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) – também não haviam comentado o resultado das eleições até a última atualização desta reportagem.
'Sensatez'
Durante entrevista na semana passada, o então candidato Lula foi questionado sobre qual reação esperava de Bolsonaro, caso fosse eleito.
Na ocasião, o agora presidente eleito afirmou que esperava que Bolsonaro tivesse "um minuto de sensatez" e telefonasse para ele "aceitando o resultado da eleição".