A instabilidade econômica na Venezuela afastou César Vargas de suas maiores paixões. Aos 50 anos, o artista plástico venezuelano está longe de casa, da família e do ofício. Há mais de um mês em Porto Velho, ele busca reconstruir a vida por meio da Casa Acolhida Esperança, o espaço de acolhimento a imigrantes na capital.
“Já estou em Porto Velho há um mês e meio. Vivia em Barcelona, no litoral venezuelano, mas a crise econômica não permitiu que eu continuasse no meu país. Enxergo aqui uma chance de mudar de vida e onde pretendo reunir minha família, que hoje está em Pacaraima (RR). Porto Velho me surpreendeu bastante no quesito economia e decidi por ficar”, afirma o imigrante.
César é o retrato da nova onda migratória vivida pela capital. Gente que já não pretende mais seguir para o Sul do país em busca de oportunidades, mas que vem optando por continuar no município, conforme explica Rivailton Matos, coordenador da Casa Acolhida Esperança.
“O perfil tem mudado bastante. Antes, os imigrantes alimentavam o desejo de seguir para o Sul ou Sudeste devido à empregabilidade. Só que o bom momento econômico de Porto Velho fez muitos deles mudarem de ideia, fazendo com que a capital já não seja somente um local de passagem, mas uma cidade onde eles podem permanecer e construir um novo lar”, explica.
De abril de 2022 a janeiro de 2023, mais de 350 imigrantes passaram pela casa de acolhimento. Alguns registram até formação acadêmica completa, mas, diante da necessidade, não se intimidam em executar trabalhos fora de suas áreas de atuação.
“Muitos deles têm habilidade com eletrotécnica e áreas afins, mas o grande destaque tem sido a construção civil, que já empregou dezenas de imigrantes que passaram por aqui. Outra parte encontra sustento em atividades autônomas do dia a dia. O que fazemos aqui é dar todo o apoio para que eles alcancem a autonomia e possam trilhar um novo futuro”, explica o coordenador da casa.
PARCERIA
A Prefeitura de Porto Velho tem um papel central no processo de adaptação dos imigrantes. O município é parceiro da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) que, juntas, mantêm a Casa Acolhida Esperança como porta de entrada para quem chega à capital vindo de outros países.
O local foi inaugurado em abril de 2022 e recebeu um repasse financeiro da Prefeitura para atuar durante 12 meses. O prazo poderá ser prorrogado por igual período. Além do apoio financeiro, a Prefeitura viabiliza o encaminhamento dos imigrantes a serviços como o Sine Municipal, na área de emprego, ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) e aos serviços de saúde.
“O Município tem sido um parceiro essencial na história desses imigrantes. Já encaminhamos diversos acolhidos ao mercado formal de trabalho, por meio do Sine, e aos serviços de assistência social, pelo Creas. Além disso, muitos chegam debilitados física e mentalmente e necessitam de um acompanhamento médico especializado”, explica o coordenador da Casa.
REDE DE APOIO
A Casa Acolhida Esperança é um dos locais de acolhimento mantidos hoje pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e da Família (Semasf). Além dela, o município também conta com o Albergue Municipal Frei Damião, que acolhe tanto imigrantes quanto moradores em situação de rua.
Outro aparelho do município é o Centro Pop Dom Moacyr Grechi, que garante acesso a direitos básicos em educação, saúde e cidadania a moradores em condição de rua.
Para a gerente de Acolhimento Institucional da Semasf, Carla Tajala, a Casa Acolhida Esperança é um trabalho indispensável para garantir dignidade a quem enxerga em Porto Velho a chance de um novo futuro.
“O objetivo da Prefeitura é que os imigrantes recebam todo o apoio e acolhimento, seja para quem está em trânsito seja para quem opte por ficar de vez aqui no município. A ideia é dar dignidade a essas pessoas. É um interesse de todos, do município e da sociedade, que o imigrante seja devidamente acolhido e tenha todas as condições de seguir em frente”, finaliza.