Foto: Itamar Ferreira
... está ficando cada dia mais ampla, intensa e necessária. É inegável os inúmeros avanços que ocorreram nas últimas décadas e principalmente nos últimos doze anos, mas uma herança multimilenar do patriarcado que vivemos deixou marcas profundas e ainda serão necessárias muitas mudanças inovadoras para superarmos o machismo, exacerbado ou dissimulado, que há em cada um de nós.
A complexidade do problema reside no fato de que o machismo não está só nos homens ou em atitudes, mas sim numa herança cultural que afeta todos, em maior ou menor grau, homens e mulheres, que reproduzem diariamente os conceitos e ideias machistas, seja na educação dos filhos, na formação dos estudantes ou na convivência diária.
Para muitos, homens e mulheres machistas, "Amélia é que era mulher de verdade, pois não tinha a menor vaidade", conforme aquela música da década de 40. Aliás termos como "mulher de verdade" e "mulher direita" definem até hoje o papel que a mulher deveria se enquadrar para ser socialmente aceita e valorizada.
Os conceitos machistas atingem os mais variados campos do viver humano, como o trabalho, comportamentos, valores que estabelecem culturalmente o que "pode" e o que "não pode" a mulher fazer. A insubmissão a esses ditames provoca discriminação, assédio moral e sexual, além de violência psicológica e física.
Combater essa situação de discriminação e violência é o que se propõe na atualidade o debate feminista contemporâneo, através de campanhas permanentes de conscientização e atividades como a Marchas das Margaridas, Marchas das Mulheres Negras e, nestes dias 7 e 8, a 4ª Conferência Estadual de Políticas para Mulheres de Rondônia, com o lema "mais direitos, participação e poder para as mulheres", realizada em Porto Velho, no Hotel Rondon.
É importante nos conscientizarmos que o machismo está na nossa formação cultural, nas piadas como "mulher no volante, perigo constante"; no orgulho que os pais sentem quando o filho homem aos 15 anos aparece com as primeiras namoradinhas e nas proibições da filha aos 18, 19 ou mais anos de namorar; na boa fama do rapaz namorador e na má fama da moça que ousar fazer o mesmo, só para citar algumas situações.
Outra coisa que julgo pedante é dizer que direitos iguais pressupõe, obrigatoriamente, carregar botijões, trocar pneus e/ou dividir contas, coisas que o homem possivelmente levaria uma certa vantagem pela características biológicas, culturais ou até pela diferença de renda para as mesmas atividades.
Para quem pensa assim sugiro que peçam ao Eduardo Cunha aprovar uma lei para os homens terem TPM, menstruarem, engravidarem e amamentarem durante seis meses a um ano, afinal são coisas até então exclusivamente femininas. Há que se respeitar as diferenças, principalmente biológicas, que não atrapalham a busca pela igualdade.
Um paradigma que infelizmente ainda existe é o aquele que diz "em briga de homem e mulher, ninguém deve meter a colher". Se a briga envolver violência, psicológica ou física, não se deve mesmo meter a "colher" e sim a polícia para proteger a vítima da agressão, que normalmente acontece no lugar onde a mulher deveria estar mais protegida, dentro do seu lar.
Igualdade de oportunidade e salários no emprego em todos os campos de atividade; mais espaços na política, ainda que por meio do estabelecimento de cotas (já existe 30% no número de candidatos, porque não o mesmo percentual, pelo menos, para as vagas nos parlamentos?); proteção mais efetiva das mulheres vítimas de violência, com programas de proteção e casa abrigo. Esses são apenas alguns dos muitos desafios que homens e mulheres que buscam uma sociedade mais justa, fraterna e com igualdades de direitos devem buscar cotidianamente...
Itamar Ferreira é bancário, sindicalista, presidente da CUT-RO, formado em administração de empresas e pós-graduado em metodologia do ensino pela UNIR, acadêmico de direito na FARO.