Em Porto Velho, a competição entre farmácias atingiu um nível alarmante. Grandes redes travam uma intensa batalha por clientes, a ponto de, em algumas esquinas, haver três farmácias disputando o mesmo espaço. Essa concentração não é apenas um sinal de ambição comercial, mas também reflete um problema social grave.
Especialistas associam diretamente esse fenômeno à precariedade do saneamento básico em Porto Velho. Em 2022, apenas 41,79% da população tinha acesso a água potável, a pior marca entre as maiores cidades do Brasil. A situação do esgoto é ainda mais crítica, com uma cobertura de coleta de apenas 9,89% e um índice de tratamento de míseros 1,71%, o que coloca a cidade entre as últimas do ranking nacional.
Essa realidade cria um ciclo vicioso: a falta de saneamento básico aumenta a incidência de doenças, o que, por sua vez, eleva a demanda por medicamentos e sobrecarrega o sistema público de saúde. Em resposta a essa necessidade, as farmácias se multiplicam, transformando certas áreas em centros comerciais do setor de saúde.
Investimento abaixo da média
O levantamento de 2025 do Instituto Trata Brasil, baseado nos dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA) do Ministério das Cidades, revela que Porto Velho continua apresentando números preocupantes.também revelou o tamanho do abismo enfrentado por algumas cidades quando o assunto é investimento em saneamento básico, essencial para a universalização do serviço até 2033.
Em Porto Velho, ao analisar o histórico de investimento, o recorte mostra que em 2019 o valor era de R$ 8,34, em 2020 caiu para R$ 4,28, e atingiu a pior média de investimento na história recente em 2021, com apenas R$ 0,26, segundo os dados.
Os números apresentaram uma melhora nos anos seguintes: R$ 17,14 em 2022 e alcançou o maior valor da série, chegando a R$ 81,53 em 2023. Considerando todos os valores, a média de investimento por habitante é de R$ 47,97.
O indicador de investimento médio dos 100 municípios que compõem o Ranking equivale a R$ 103,16 por habitante em 2023. O próprio indicador sofreu uma forte queda, a média em 2022 era de um investimento médio de R$ 138,68 por habitante.
Considerando a média de investimento nacional, calculada em R$ 126,97, segundo o SINISA de 2023, Porto Velho está muito longe de investir adequadamente para universalizar os serviços de água e esgoto.
Segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico, o investimento deveria estar no patamar de R$ 223,82 nas cidades que ainda não têm o serviço considerado universalizado.
Diferença nos investimentos mostra cenário desigual
Entre 2019 e 2023, os investimentos em saneamento básico nas cidades de Rondônia apresentaram uma disparidade alarmante. Um levantamento feito com base nos dados do SINISA mostra que as cidades de Buritis e Ariquemes despontam entre os municípios que mais investiram em saneamento básico por habitante. Já a cidade de Ji-Paraná ocupa a última posição do ranking estadual, com um valor mais de 60 vezes inferior, a capital Porto Velho também ficou para trás no volume investido por habitante.
Buritis lidera com um investimento de R$ 1.202,87 por habitante, seguida de Ariquemes, com R$ 1.174,00. Os municípios têm se destacado pela ampliação do sistema de abastecimento de água. Ariquemes, avança ainda com a implantação de redes de coleta e tratamento de esgoto, até o fim do ano a cidade pretende alcançar a cobertura de 40% da cidade atendida pelo sistema. Obras que contribuem para a melhoria da saúde pública e o desenvolvimento urbano sustentável.
Na sequência, aparecem Pimenta Bueno (R$ 701,97) e Rolim de Moura (R$ 608,14), que também apresentaram números expressivos. Os avanços nessas cidades incluem melhorias em mobilidade urbana, drenagem e acesso à água tratada.
Por outro lado, Porto Velho, capital do estado (R$ 63,46), também figuram entre os municípios com os menores aportes, muito abaixo da média nacional, estimada em R$ 250 por ano, segundo o Instituto Trata Brasil. Ji-Paraná aparece na lanterna do ranking entre as principais cidades do estado, com apenas R$ 18,20 investidos por habitante no período, o equivalente a pouco mais de R$ 3,60 por ano.
Caminhos para o futuro
Com o novo marco legal do saneamento, que estabelece metas para a universalização da água tratada e do esgotamento sanitário até 2033, os municípios terão de buscar soluções urgentes para superar seus gargalos. A ampliação dos investimentos é fundamental não apenas para atender à legislação, mas para garantir o direito básico à água, saúde e dignidade.
A realidade de Rondônia mostra que, sem uma estratégia de desenvolvimento regional mais equilibrada, parte da população continuará sendo privada de serviços essenciais, exposta a riscos à saúde, e o meio ambiente, permanentemente ameaçado pela ausência de políticas eficazes de saneamento.
Atualmente, o Governo de Rondônia está empenhado em transformar o cenário do saneamento básico no estado, com a projeção de investimentos superiores a R$ 5 bilhões ao longo dos próximos 35 anos. Através de um leilão para do sistema para iniciativa privada o governo visa universalizar os serviços de água e esgoto para cerca de 1,3 milhão de habitantes em 45 municípios, com metas ambiciosas de alcançar 99% de cobertura de água e 90% de esgoto.
Atualmente, Rondônia apresenta um desafio significativo, com apenas 52% de cobertura de abastecimento de água e 16% de esgotamento sanitário. Para superar essa lacuna, o modelo em análise prevê a participação da iniciativa privada através de uma concessão plena, onde empresas operarão o sistema de água e esgoto em áreas urbanas, distritos e localidades selecionadas.