Os executivos da Odebrecht prometeram aos investigadores da força tarefa da Lava-Jato detalhar como o caixa dois da empresa abasteceu as campanhas eleitorais do PSDB em 2010. A informação foi publicada pelo jornal "Folha de S. Paulo" e confirmada pelo GLOBO junto a pessoas que acompanharam de perto as negociações.
De acordo com o jornal, os repasses teriam ido para o hoje ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), que concorreu à Presidência da República, em 2010. Ele teria recebido ilegalmente R$ 23 milhões. O GLOBO não conseguiu confirmar a citação ao tucano e os valores.
Para comprovar que houve o pagamento por meio de caixa dois, segundo o jornal, a Odebrecht vai apresentar extratos bancários de depósitos realizados fora do país que tinham como destinatária final a campanha presidencial do tucano. O ministro era apelidado na contabilidade paralela da empresa de "vizinho" e "careca".
Não é a primeira vez que um presidenciável tucano aparece nas negociações. O GLOBO revelou no final de julho que os executivos da empresa relatam repasses à campanhas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O tucano está entre os 13 governadores e 35 senadores já citados por dirigentes da construtora.
Os dados da transações feitas pela Odebrecht no exterior são o ponto chave das negociações. Os investigadores querem acesso irrestrito aos dados e às transações do Setor de Operação Estruturadas e do Meinl Bank Antigua, localizado em Antigua. O banco era controlado por operadores ligados à construtora e pode ter sido usado para repasses no exterior.
Na última semana, investigadores ouviram executivos da empresa em Curitiba e Brasília durante mais uma etapa da negociação do acordo de colaboração que Odebrecht. Desde a abril, advogados da construtora negociam os termos do acordo que pode ter mais 90 anexos e envolver 51 executivos e gerentes do grupo.
Além de Marcelo Odebrecht que falou por cerca de 10 horas aos investigadores na sede da Polícia Federal, também estiveram em Curitiba o ex-diretor-presidente da construtora Odebrecht, Benedito Barbosa da Silva Junior, e ex-executivo Alexandrino Alencar. Os dois, que estão soltos, participaram de uma espécie de entrevista na sede do Ministério Público Federal. Na conversa, eles teriam relatados aos investigadores o que pode falar em delação.
Pagamentos na obra do Rodoanel
A delação da Odebrecht, segundo o jornal, também envolverá a construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas. A obra aparece em um das planilhas apreendidas durante a 23ª fase da Lava-Jato. A construtora teria pago a pessoas ligadas a Serra que participaram do projeto.
Em nota, o ministro informou que a sua campanha foi conduzida na forma da lei e que as finanças eram de responsabilidade do partido. Serra afirma ainda que ninguém foi autorizado a falar em meu nome: “Considero absurda a acusação sobre o trecho sul do Rodoanel, até porque a empresa em questão já participava da obra quando assumi o governo do estado”.
Até o momento, o PSDB não se manifestou. A Odebrecht informou que não vai se manifestar sobre as negociações da delação.