Um relatório da organização ambientalista WWF e da Sociedade de Zoologia de Londres divulgado nesta quinta-feira (27/10) indica que a vida selvagem poderá se reduzida em 67% em todo o mundo, num período de apenas 50 anos que se encerra no final desta década.
O relatório, intitulado Planeta Vivo, afirma que as populações humanas subjugam o planeta em níveis "sem precedentes" na história. E sugere que, para mudar esse quadro, são necessárias transformações no modo como as sociedades se abastecem e se alimentam.
Entre 1970 e 2012, as populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram 58%, diz o estudo. Isso significa que, num período de 50 anos, que termina em 2020, essas populações poderão ser reduzidas em até dois terços do total.
O ano de 2020, porém, também é de "grandes promessas", segundo o relatório, com o início dos compromissos assumidos por 196 países no Acordo de Paris, que estabelece metas para a redução de emissões de gases do efeito estufa e a diminuição de uso de combustíveis fósseis, limitando o aquecimento global ao máximo de 2ºC acima dos níveis pré-industriais.
Segundo o WWF, as medidas previstas no acordo poderão contribuir para garantir as reformas necessárias nos sistemas de produção de alimentos e de energia para proteger a vida selvagem em todo o mundo.
Exploração abusiva
O estudo avalia que a principal causa da destruição dos habitats naturais e da exploração abusiva dos animais selvagens é a produção de alimentos. "Atualmente, a agricultura ocupa cerca de um terço da área total da Terra e é responsável por quase 70 % do uso da água", afirma o documento.
"A vida selvagem está desaparecendo das nossas vidas num ritmo sem precedentes", afirma no relatório o diretor geral da WWF Internacional, Marco Lambertini, ressaltando que isso diz respeito não apenas às populações de animais, mas também à biodiversidade que se constitui da base de florestas, rios e oceanos saudáveis.
"Acabar com as espécies e com os ecossistemas fará com que entrem em colapso também os serviços que eles nos fornecem, como o ar, água, alimentos e a regulação do clima."
O texto sugere soluções para amenizar o impacto da atividade humana no planeta, alterando as formas de produção e consumo dos alimentos enquanto garante a alimentação mundial de modo sustentável.
Pesquisas de diversas instituições citadas no relatório apontam que a humanidade utiliza recursos de 1,6 planeta para fornecer os produtos e serviços que consumimos a cada ano.
"Sexta extinção"
O WWF sugere que, nas atuais circunstâncias, devemos "repensar a forma como produzimos e consumimos" e também "medir o sucesso e valorizar o ambiente natural".
A esperança, segundo os autores do estudo, está na "mudança urgente do sistema, do comportamento individual, das empresas e dos governos", além dos exemplos sobre a gestão de recursos naturais ou os recentes acordos globais sobre as alterações climáticas, em particular a Agenda para o desenvolvimento sustentável 2030."
Sabemos o que é preciso para construir um planeta fortalecido para as gerações futuras, só precisamos é agir de acordo com esse conhecimento", afirma Marco Lambertini.
O Planeta Vivo 2016, principal publicação bianual do WWF, acompanhou mais de 14 mil populações de vertebrados de mais de 3,7 mil espécies, entre 1970 e 2012.
O relatório utiliza o Índice do Planeta Vivo, criado pela Sociedade Zoológica de Londres, que acompanha as tendências da vida selvagem e revela de que modo ocorre a diminuição das populações de animais.
O estudo conclui que o planeta está entrando num "território completamente inexplorado na sua história", onde a humanidade "molda as mudanças na Terra".
O texto se refere ainda a "uma possível sexta extinção em massa", num período que os pesquisadores designam como Antropoceno – o período geológico onde os humanos se tornaram o principal fator de transformação no planeta.